segunda-feira, 31 de março de 2008

fadas

Em homenagem aos amantes das boas histórias de fadas, mostro-lhes a versão oficial da Cinderela, a gata borralheira, que Walt Disney (aqui no Brasil é Valdisnêy, né?) distorceu completamente.
Vê se não parece Jogos mortais? É por isso que não contam mais
assim pras crionças, senão elas achariam o máximo.

Clica no link e vai lá. É diversão garantida.

Obrigado pelas visitas e comentários!

domingo, 30 de março de 2008

damas











A (insistentes e implorados) pedidos...


Homens jogam dama, mulheres jogam xadrez


Vai parecer esquisito, eu sei, porque vem de mim, que sempre fui metido a feminista. Sempre tentei me envolver com a causa feminina (e com a masculina, de quebra, porque também me preocupo com meu futuro) e por todos os lados preguei a igualdade.

Hoje está em voga falar das diferenças e, mais que aceitá-las, ser diferente. Se você não é diferente, é massificado, é não-pensante, é figura par. E isso parece que o mundo "alternativo", que pensa, não quer.

Às vezes me questiono até que ponto nós “temos que ser” ou “somos” diferentes.

O fato é que eu constatei, com a ajuda da minha irmã – traidora das mulheres que me conta todos os segredos delas –, que as mulheres são realmente muito diferentes de nós, homens. É no mínimo engraçado ver um machista falar das mulheres. Me lembra daquela piadinha em que Deus concede dois dons, um a Adão e outro a Eva. Adão, mais que depressa – o mal da ejaculação precoce começa aí – pede pra mijar em pé, que esse era o primeiro dom. Eva, paciente, aguarda e fica com o cérebro, que era o segundo dom. Os machistas são os mais filhos da puta que existem. Porque eles sacaneam as mulheres, sacaneam os homens que não são machistas e (burrice!) a eles próprios com sua mania de imposição.

Mas eu até agora não cheguei aonde quero. Quero falar mal das mulheres, eu sei que vou conseguir, concentre-se: elas mentem muito. E nós não? Claro que nós mentimos, que dúvida... mas nossas mentiras são bestas, são simplórias demais. Nós as “fazemos” acreditar e cremos que as fizemos acreditar na gente, quando de fato elas sabem de toda a verdade ou não querem saber, realmente, a verdade e fingiram crer na gente pra tirar proveito de alguma coisa, pra nos controlar, na maioria das vezes. Obviamente, eu estou generalizando.

A mentira delas, contudo, é um requinte, é um arabesco de infindáveis e trabalhadas filigranas, coisa que só se vê na arte clássica. Sabe quando nos deparamos com aquele quadro lindo de um artista famoso e clássico? Sei lá, Michaelângelo? A gente investiga, procura, encontra um monte de coisas, vê um monte de possibilidades, mas chega uma cor, chega um traço, chega um detalhe que nós não conseguimos entender, tal a perfeição do negócio. Chegamos a descrer que aquilo tenha sido feito por mãos humanas. Pois é, assim é a mentira das mulheres. Porque se ela quiser descobrir a falcatrua do homem, ela descobre, porque nós deixamos rastros, nós contamos que ela vai acreditar de primeira. E se elas quiserem saber da verdade, assim, só por curiosidade, elas conseguem. Nem que pra isso tenham de mentir mais que a gente. Basta elas quererem.

Agora a mentira delas tem um contorno perverso. Elas criam situações e histórias insondáveis. Histórias que nos envolvem e que, por nosso passado ser mais sujo que pau de galinheiro (com todas as galinhas junto), nos fazem ficar desconfiados de nós mesmos, nunca delas. E é, muitas vezes, mentira.

Sabe quando vamos descobrir que é mentira? Nunca, porque o troço foi tão bem elaborado, que você acaba se deparando com o traço do Michaelângelo que você não entendeu como foi feito. Só existe uma maneira de ser derrubá-la: se ela te contar a verdade. Como esse fato é muito difícil de acontecer, você morre, é enterrado, reencarna e não descobre a verdade. Porque nossas mentiras são simples como o jogo de damas, nós até podemos ter uma estratégia, até podemos bolar um plano infalível para vencê-las, mas nós só temos três ou quatro jogadas pela frente, que eu penso ser o possível matematicamente. Já elas jogam xadrez, e nesse jogo doze é um número razoável de jogadas possíveis que se pode fazer pra derrubar o rei. Até você desmantelar onze dessas jogadas, você mesmo já está desmantelado, não agüenta mais ir atrás da verdade.

E seu rei tomba em xeque.

quarta-feira, 26 de março de 2008

rosa


Um dos livros mais instigantes da minha vida, Grande sertão: veredas, foi também uma das melhores aventuras literárias. Eu e minha querida amiga Suene Honorato (valeu pelos comentários! Depois temos que conversar!) lemos um para o outro. Em voz alta. E sem dicionário.
Guimarães Rosa foi desses caras fáusticos que passam pela nossa vida e que, quanto mais se lê, parece que mais se deslê; quanto mais encontrado, mais longe do caminho certo. E eis que a armadilha deliciosa do texto dele está exatamente na sua crença de que o absoluto conhecimento está no mais simplório dos que julgamos (preconceituosos que somos) simplórios: o homem do sertão. Este ser que é tão.
Recomendo Primeiras histórias, Grande sertão: veredas e Sagarana (sobretudo o último conto, A hora e a vez de Augusto Matraga).
A frase no muro está (esteve?) no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. É a frase mais dita, redita, trisdita no livro: "Viver é muito perigoso".

segunda-feira, 24 de março de 2008

desfábulas

Estou com vontade de escrever minhas desfábulas. Há muito tenho na mente a idéia de produzi-las. Primeiro, porque adoro o gênero fábula. Segundo, porque adoro piadas sem graça. Terceiro, porque sou mestre em contá-las.

Vamos à primeira, então.

Desfábula # 1

Um pobre rapaz na rua passava fome e frio, quando se deparou com um açougue. Sentiu vontade de comer carne, coisa que fazia raramente, mas não sabia como fazê-lo, uma vez que não tinha casa, muito menos cozinha, que dirá fogão.

Mesmo assim, decidiu ir até lá e pedir ao dono do açougue um pedacinho de carne, quem sabe não conseguisse cozinhá-la ou fritá-la em algum lugar.

Chegando lá, o dono do açougue, vendo a situação deplorável daquele rapaz, ofereceu a ele um pedaço de pão, mesmo sem o rapaz dizer nada. Este, por sua vez, aceitou de bom grado o pão que lhe mataria a fome, mas não se esqueceu da carne.

Quando o açougueiro se distraiu, o rapaz avançou num naco de carne seca que havia ali pendurado e, antes mesmo de terminar de mastigar, o açougueiro mandou-lhe na testa um enorme cutelo, dizendo:

– Não aprendeu que onde se ganha o pão não se come a carne?!

domingo, 23 de março de 2008

desenho


Por trás de muitos dos inocentes ensinamentos, os desenhos animados infantis trazem uma infinidade de símbolos que permeiam nossa vida. Alguns desses símbolos são meras representações do cotidiano. Outros revelam seres vidrados em sexo, perversão, drogas e violência. O tema da violência nos desenhos animados, pra mim, está repisado. Não que não se deva discuti-lo mais, ao contrário, ainda há pano para muitas mangas. E nem é da violência objetivamente (se é que eu consigo ser objetivo...) que eu quero falar.

Eu gostaria de propor aí um tema pra um desses estudantes de semiologia: desenhos animados: sexo, drogas e perversão.

Já prestou atenção ao clássico Thundercats? Um indivíduo chamado Lion, que mais se parece com um freqüentador de bailes funks dos anos 70, anda pra todo lado com uma espada dentro de uma garra presa à cintura. A espada tem até nome: “Justiceira”. A espada, como sugerem vários psicanalistas (inclusive Freud), é um símbolo fálico. Mas num momento de excitação (prazer por violência é um tipo de perversão), Lion faz sua espada aumentar de tamanho em até dez vezes o tamanho original. Qualquer semelhança com o bigulim dos homens não é mera coincidência!

E Popeye, o marinheiro? Viciado em drogas, envolve-se em violência todas as vezes que sua namorada anoréxica e bulímica (distúrbios conhecidos pela busca extrema pelos padrões de beleza impostos pela sociedade) o trai com o fanfarrão – palavra da moda – Brutus, que nunca consegue de fato possuí-la, porque ela o tenta até quando ele beira à loucura e comete delitos, como seqüestrá-la, por exemplo, para tentar algo a força. Ela então chama pelo marinheiro em eterna fase de reabilitação que, não conseguindo enfrentar seus medos sóbrio, utiliza-se de uma substância alucinógena (LSD, chá de cogumelo, Santo Daime, etc.) que o faz sentir-se forte e poderoso. Suas mãos tornam-se marretas gigantes, ele próprio vira um foguete, seu cachimbo dá voltas soltando fogo e mais um monte de efeitos causados pelo abuso de drogas pesadas. Só assim, chapado, consegue enfrentar Brutus.

E o Salsicha, maconheiro que conversa com um cachorro de nome Scooby-Doo e vive na larica?

E a sociedade alternativa dos Smurfs, em que o Estado totalitário é representado por Gargamel e Cruel, seu gato, o aparelho repressor?

E Bob Esponja, o desenho GLBT?

E He-Man e She-Ra, irmãos separados de planetas por cometerem incesto?

Eu poderia traçar inúmeros exemplos aqui de desenhos animados que trazem muito mais do que meras lições de bem X mal. No entanto, eu não vou me ocupar dessa tese. A propósito disso, leiam A psicanálise dos contos de fada, de Bruno Bettelheim*. Tem tudo a ver.

E a sociedade ainda tem preconceito com os travestis, mas seus filhos assistiram aos Cavaleiros do Zodíaco.


* Mas o livro é sério!

quarta-feira, 19 de março de 2008

lýngwa

Discutir linguagem é sempre um prazer. Na verdade, tudo que se refere a esse músculo elástico que nos ajuda a comer, a falar, a fazer troça das ordens dos mais velhos é sempre interessante. Isto porque é ela, a lýngwa, a responsável pela mais bela das artes humanas: a comunicação verbal (e em alguns casos, a não-verbal também).
Mas parece que o falar tem sido alvo fácil de um neo-apartheid. Quando vejo um colega falando em norma "culta", tenho a impressão de que há nessa classificação um preconceito sub-reptício fruto de um discurso de dominação. Quem fala certo, é respeitado. Quem fala errado, é burro (ou daí pra baixo). Daí me lembro de um texto clássico do Veríssimo chamado O gigolô das palavras, em que ele compara os vo
cábulos a meretrizes e o usuário ao cafetão ou explorador das garotas de programa. Na verdade, a comparação é até meio machista, porém, explicita uma relação - que nem sei se acontece como ele descreve - de submissão das palavras àqueles que as usam. E é nesse texto que ele diz o clássico: "escrever claro não é certo, mas é claro, certo?"
Isso porque há mudança de classe (adjetivos que se transformam em advérbios sem pedir licença). Pois bem, o "certo" seria eu dizer: quem fala corretamente é respeitado. Quem fala erroneamente é burro. Daí eu te pergunto: por acaso você deixou de entender o que eu quis dizer por ter usado o adjetivo (com função adverbial)? E esse é só um exemplo beeeeem cotidiano mesmo.
Vamos discutir a lýngwa, essa estranha metonímia que usamos para estabelecer elos com outras pessoas, não a gramática. Porque gramática é um livro que deve servir como norte para a
comunicação, tal como um dicionário. A partir do momento que colocamos a gramática como centro das atenções - e é isso o que temos feito a vida toda na escola -, nós negamos as absolutas transformações que os falares promovem incessantemente.
Por que é que você acha que tantos lingüistas clássicos desconsideram a fala? Porque ela é a única coisa completamente anárquica na lýngwa. No exato momento em que eu busco categorizá-la, ela escapa pelos meus dedos como um punhado de areia em mãos fraquejantes.
Não gosto de falar em norma "culta". Isso quer dizer que minha mãe, por não ter prosseguido com seus estudos a par
tir da quinta série do ensino fundamental e , portanto, não dominar tal norma, mas apesar disso é mais sabedora de cultura de um modo geral do que toda minha família reunida, retomo, isso quer dizer que minha mãe não é culta. Isso eu não aceito. A lýngwa dela é tão bela quanto a do Paspale Cipó Metro.
A propósito do título, y não tem som de i e w som de u? Aprendi no pré. (eu era bem menos do que sou hoje quando fazia pré, ou melhor, eu não era nada)

Imagem do belíssimo filme A língua das mariposas. Vale a pena assistir!

segunda-feira, 17 de março de 2008

abigail

Eu reconheço que as mulheres sofrem muito mais do que os homens num monte de coisas. Confesso que não sei se agüentaria metade da dor que elas sentem (muitas dores, porque querem!). Não tenho tino pra masoquista e acho que eu tenho de ser feliz como eu sou, antes de qualquer um, pra mim.
Mas dei boas risadas do texto que segue. Eu recebi por e-meio, sem endereço de quem escreveu, mas vasculhando na net achei as donas. São as redatoras de merda, meninas muito bem humoradas que escrevem na linha do Veríssimo, Porém, com uma linguagem muito mais chula. Divirtam-se com este texto, intitulado Coitada da Abigail.
Té the next.

Coitada da Abigail!

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria.
Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.

- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.

- Vai depilar o quê?

- Virilha.

- Normal ou cavada?

Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.

- Cavada mesmo.

- Amanhã, às... Deixa eu ver...13h?

- Ok. Marcado.

Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.

Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.

- Querida, pode deitar.

Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.

- Quer bem cavada?

- É... é, isso.

Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.

- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.

- Ah, sim, claro.

Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei.

De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).

- Pode abrir as pernas.

- Assim?

- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.

- Arreganhada, né?

Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal.

Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.

- Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.

- Quer que tire dos lábios?

- Não, eu quero só virilha, bigode não.

- Não, querida, os lábios dela aqui ó.

Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.

- Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.

Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.

- Olha, tá ficando linda essa depilação.

- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.

Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali.

Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta".
Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.

- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?

- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.

Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.

- Vamos ficar de lado agora?

- Hein?

- Deitar de lado pra fazer a parte cavada.

Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.

- Segura sua bunda aqui?

- Hein?

- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.

Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê.

Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista!!! Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:

- Tudo bem, Pê?

- Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente.

Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos?

E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali.

Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.
- Vira agora do outro lado.

Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.

- Penélope, empresta um chumaço de algodão?

Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.

- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.

- Máquina de quê?!

- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.

- Dói?

- Dói nada.

- Tá, passa essa merda...

- Baixa a calcinha, por favor.

Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho?

Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
- Prontinha. Posso passar um talco?

- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

- Tá linda! Pode namorar muito agora.

Namorar...namorar... Eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.

domingo, 16 de março de 2008

crionças



















Eu tenho uma teoria: crianças não deveriam se chamar crianças. Deveriam ser
crionças. Sim, pois é o que muitas são. Outro dia contei na sala de aula o que penso sobre elas. Sua justiça é implacável e seu senso de humanidade simplesmente não existe. Tenho horror a crianças, temo que sejam bichos perigosos, uma vez que são sexualmente transmissíveis. O filho de uma prima, sociopata no futuro - com certeza -, estava em silêncio brincando no quintal de sua casa, onde havia uma pequena criação de galinhas. A vó assistia tv enquanto a mãe trabalhava na casa de alguém (ela é diarista). De repente, a vó ouve o menino chamar "Vóóóóó, vem ver o que eu fizzzz!!!". A vó, preocupada com os ovos que a galinha estava chocando, já sabendo que o menino é uma das encarnações do mal, foi lá já pensando no pior. Quando chegou no quintal, o menino estava com um pedaço de pau e três pintinhos empalados nele. "Espetinho de pintinho, vovó!!". Imagina o choque dessa senhora? Imagina vc conviver com um bicho desses em casa? Na casa da minha irmã, ela criava um porquinho da Índia. Preá, na verdade. Ele soltava pequenos esguichos quando tinha fome, um bicho fofinho que qualquer ser acha legal. Exceto esse psicopata-mirim. Um dia ele estava na casa da minha irmã e ela ouviu um esguicho muito mais agudo e forte do que o de costume. Correu pra cozinha e lá estava o garoto esmagando o bicho com uma pisada no meio do corpo dele. Ria ao ver os olhos esbugalhados do animal saltarem das órbitas. Como não temer um monstro desses? As crianças deveriam nascer com 13 anos ouvindo Rocket to Russia, lendário disco dos Ramones.
Dá só uma olhada nessas fotos dessas pragas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

tessitura

Segundo o velho e bom Houaiss, tessitura tem a ver com tecido, com música, mas tem a ver com texto também. Já emaranhado significa confusão, mistura desordenada. Pensar numa composição musical, tapeceira ou mesmo textual que represente esse caos e aí, assim também, a beleza do caos, é minha principal intenção ao criar este blog. Por isso essa belezura de nome: .tessitura emaranhada.
Sempre achei esse gênero (blog) meio cafona, por causa dos resquícios do seu surgimento, uma tal versão "moderna" dos diários (só que com interlocutores outros).
No entanto, como é a vida de um gênero discursivo, né... Agora o blog ganhou status não de gênero, mas de veículo e hoje publica toda sorte de coisas. De textos produzidos por pessoas anônimas que se arriscam na subliteratura a jornalistas rebeldes expulsos de jornais; de adolescentes exercitando xeUxX koDigux a pessoas interessadas em sexo (e como as há por aí).
Confesso que não tenho muitas expectativas quanto a este veículo, mas vou postar aqui o que me der na telha. Textos meus, textos dos outros, textos recebidos da internet sem autoria ou com autoria trocada, imagens que considero interessantes, links para vídeos, sites, comunidades... O que me der vontade.
Vou divulgar isso em sala de aula, quem sabe meus alunos não passam a se interessar por algum tipo de leitura? Como diria um dos meus mestres, professor Giuseppe Bertazzo, "erudição é cultura inútil"; e vice-versa, penso eu.
Boa tessitura: leitura e diversão pra você.