quarta-feira, 30 de março de 2011

o cacho de uvas e a raposa (desfábula)

      Certa vez um cacho de uvas passeava por um pomar quando deu com um pé de raposas carregado. Notou que uma das raposas estava madurinha e mais baixa que as demais, pronta para ser abatida. Tomou distância e, num salto como nunca saltou, raspou o talo na cauda da raposa, mas não alcançou seu objetivo.
      Cansado e com muita tanta fome, mas deslumbrado com a possibilidade, tomou mais distância e, com ainda mais força, saltou mais alto que anteriormente, desta vez conseguindo dependurar-se no vistoso rabo da raposa. Porém, ainda não seria daquela vez, ele acabou escorregando.
      Quase desistindo da empreitada, um pensamento chinês perpassou sua cabeça de uva: "melhor morrer tentando que desistindo", e isso o encheu de coragem e força de vontade. Num salto com vara de tão alto (mas obviamente sem vara), alcançou a raposa e conseguiu colhê-la para, então, devorá-la finalmente com imenso prazer.

MORAL: A ordem dos fatores altera o produto

sábado, 19 de março de 2011

adote um carro pequeno

Tenho falado desse assunto constantemente em sala de aula com meus alunos. Chegou a hora de verbalizar por escrito. 
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      Goiânia tem hoje a maior frota de carros do país, proporcionalmente. Tem a segunda maior frota de motocicletas, em números absolutos, ficando atrás apenas de São Paulo. A última estimativa que li, dava conta de que há um automóvel para cada 1,7 habitante. Fora isso, a capital de Goiás tem um trânsito estrangulado e, em horários de pico, as histórias de São Paulo a que assistimos pela tevê parecem com as nossas: engarrafamentos, ruas apertadas, perda de tempo, estresse. O carro está virando nosso segundo lar/escritório. Cada dia vemos mais pessoas "trabalhando", lendo, comendo e usando o veículo não só para o que ele foi destinado (e que não cabe colocar nesse blog de família).
      O goiano adora ter seu veículo. Pra nós, é uma questão de sucesso mostrar aos demais que temos o nosso carro. Os outros compactuam com essa ideia e aqueles que ainda não têm os seus, não veem a hora de os ter. Ninguém quer metrô ou um transporte coletivo de melhor qualidade. Quer andar em seu carrinho. De preferência sozinho, afinal, goiano que é goiano não dá carona, vai pro mesmo lugar com um bando de outras pessoas desacompanhados em seus carros. Repare no próximo churrasco da faculdade/colégio a que você for: cada um no seu quadrado.
      Mas isso não é tudo, o goiano, em especial o goianiense, adora carro grande. A moda dos SUVs (Special Utility Vehicle, na sigla em inglês, ou "utilitário premium") na Europa já passou faz anos. Nos EUA, onde as avenidas são largas e há transporte público de qualidade, ainda existem muitos carrões. No entanto, as cidades norte-americanas não foram projetadas para cinquenta mil habitantes como Goiânia (que hoje abriga 1.301.892 de pessoas). Aqui, o cara adora ter um carro gigante, mesmo que ele more sozinho e não utilize todo aquele espaço interno. E o que dizer das caminhonetes? Não bastasse a cultura sertanejoide da cidade (músicas, bares, vestimentas, gírias...), ter uma caminhonete nesta cidade é sinônimo de status. Teoricamente ela é destinada para o campo, para carregar objetos, utensílios, produtos da roça, enfim. O curioso é que a maioria delas não vê nem poeira. Não chegam de fato a ir pra roça no final de semana e desfilam pela cidade com capotas maritmas tampando um vão de um metro e meio vazio. Ou pior, lotado de som para disparar os alarmes dos milhares de carros estacionados pelas ruas.
      Numa rápida comparação, os carros grandes (SUVs e caminhonetes) têm em média de quatro a seis metros de comprimento. Na outra ponta, os carros chamados populares (exceto em seus preços) têm entre 3,60m e 3,80m. Para se ter uma noção, os minis medem entre 2,70m (Smart Fortwo) e 3,55m (Fiat Cinquecento). Em outras palavras, quem têm uma F-250, com seus imensos 5,83 de comprimento, ocupa o espaço de dois Fortwo com uma distância de 43cm ainda entre eles. Se formos fazer conta, considerando o número desses trogloditas com rodas, veremos que eles contribuem substancialmente para a piora de nosso trânsito, pois ocupam um espaço que não precisariam ocupar. 



      Mas a cultura da modinha, ah, essa danadinha... O goianiense não suporta a ideia de ter um carro pequeno. Ele quer um carro cada vez maior. O argumento "quem anda num carro grande não consegue mais andar em carro pequeno" é tão ridículo quanto "jogar só um papelzinho de balinha no chão não sujar a cidade", mas é o preferido entre as pessoas que dirigem esses caminhões de passeio. Eu entendo as famílias que têm aí, sei lá, três, quatro filhos possuírem um veículo que os caiba confortavelmente em seus passeios ou viagens. A propósito, acredito que todos nós temos direito ao conforto. Porém, quantas famílias de fato hoje têm essa quantidade de gente? O perfil dessa instituição tem mudado bastante nos últimos anos. As pessoas têm trabalhado mais, assumido mais sua condição homossexual, constituído famílias de dois membros (sem duplos sentidos, per favore), tido apenas um filho... Pra que ter todo o conforto de uma Hillux se se pode ter todo o conforto de um Aircross (ainda um carro grande, caro, mas "chique")? Só nessa comparação obtém-se um metro de economia. Isso porque estamos falando apenas dos carros. As motos, mesmo as grandes, ocupam espaços inferiores aos menores carros disponíveis no mercado.
      Por falar em economia, os transformers também consomem mais. O Tucson, por exemplo, faz uma média de seis quilômetros/litro. É muito pouco comparado ao que se faz num Uno, quase três vezes mais quilômetros rodados. 
      É preciso transporte público de qualidade? Sim. As pessoas têm de dar mais caronas? Sim. Têm de andar mais de moto, bicicleta e a pé? Sim. Os viadutos, as ondas verdes nas grandes avenidas e a eliminação das rotatórias ajudam na melhoria do trânsito? Sim, mas como paliativo, já que a população não para de crescer e comprar carro. A cultura do carro grande precisa mudar? Sim, e esse é o sim mais importante de todos, uma vez que se essa cultura dos carros enormes mudasse, teríamos muito mais espaço nas ruas e um problema muito mais facilmente remediado.
      No final das contas, tentando evitar o colapso do trânsito de Goiânia, nem defendo tanto o combustível mais barato. Se isso acontecesse nessa semana, o colapso na capital não ocorreria nos próximos anos, mas nos próximos minutos. Acho que vou encabeçar uma campanha: 
"Quer ser chique? Troque seu SUV por um mini".


sábado, 5 de março de 2011

é rata

Twitter, gêneros textuais/discursivos, tweet, hashtag, texto, hipertextos, azul, coluna, Al Gore, Campus Party, #FicaDica

Todas essas palavras no texto "gênero novo" estão destacadas com hiperlinks que deram muito trabalho pra eu os escolher e que, só hoje, descobri num outro pc que não aparecem destacadas no blog. Terei de mexer nas configurações. É como construir um castelo de cartas e depois alguém dizer que ele não é válido, que aquelas cartas não são sequer enxergadas. Shit. 
Então, para quem interessar possa, as palavras acima naquele texto levam a outros vários textos, como é a função do hipertexto.