Ensaio sobre a cegueira me acordou – novamente – para o Saramago. Eu não poderia dizer se foi boa ou má a adaptação da obra, uma vez que não li esta, especificamente. Mas poderia dizer que Saramago estava ali, na voz de Juliane Moore e na direção de Fernando Meirelles.
Também não senti necessidade de classificar o filme como drama, ou como suspense, ou como humor negro (não, isso não é típico do Saramago), ou... eu não senti, porque o filme é. Simplesmente é.
Enquanto as pessoas ficam cegas, apenas uma, num antro dos que não vêem, enxerga. Essa talvez seja sua pior condenação: ver o que fazem os cegos de então.
As alegorias pululam na tela e nas falas, algumas vezes ditadas por uma espécie de narrador que um dia vai voltar a ver. Mas não, ele é personagem e tem seus melhores momentos de velho quando fica cego junto com a multidão. Dá a entender que a vida na cegueira branca é melhor, pelo menos a sua.
O filme é intenso, é tenso, é teso, é a tez de Saramago pelo olhar publicista de Meirelles. É a tese do perder para ganhar. Filme muito bom de assistir com a caneta e o papel do lado. Os bons versos não se perdem, tal como os bons vinhos ou os bons carros.