domingo, 8 de agosto de 2010

os autômatos de asimov

O clássico da literatura de ficção científica Eu, robô, do escritor, ensaísta, estudioso de ciência  pura a Shakespeare, russo Isaac Asimov foi escrito na década de 30 do século passado. Faz um bocado de tempo. No entanto, a leitura dos contos nos arremessa para um mundo ainda à frente do nosso mas com um monte de quinquilharia tecnológica a menos, já que daqui trinta anos (quando se passa boa parte dos contos) a tecnologia será útil e a utopia criada por Asimov não produzirá tanto lixo, apenas ficará defasada, como toda tecnologia um dia está sujeita.
Como acontece em muitos casos, há um filme homônimo estrelado por Will Smith, de 2004. Entretanto, fora as três leis da robótica, os personagens Susan Calvin e Alfred Lanning, não há muito em comum entre as obras, o filme não é uma adaptação de nenhum dos contos, é mais uma história em separado utilizando a mesma plataforma do livro, como se fosse "um conto a mais".
retirado do site nerdicepontocom.com
O melhor na boa ficção científica não é só o mundo criado que sabemos não existir - ainda - ou toda a parafernália tecnológica que geralmente envolve os temas. A capacidade de recriar os problemas que se enfrenta hoje num mundo paralelo ou futuro a este é que mais chama a atenção. E isso acontece até em demasia em Eu, robô. Os primeiros contos são altamente cativantes, como em Robbie, quando temos a nítida sensação de compartilharmos o mundo com a personagem central. Mas à medida que os contos avançam, entram numa espécie de filosofagem arguta (não querendo diminuir a importância da pensação em histórias assim, ao contrário) que acompanha o leitor até a última linha. Ou seja, quando se senta esperando ler ficção científica, o óbvio é quase sempre o que se espera: robôs convivendo com humanos, problemas com aqueles que não acreditam nos robôs, robôs maus, má articulação psicológica dos autômatos, entre outros. E, sim, é possível ver tudo isso nos contos, só que se espera mais ação e menos "conversa", o que não ocorre.
Cabe dizer que o nome robótica foi criado por Asimov e não será estranho se um dia convivermos com esses seres e eles tiverem três diretrizes que os impedem de fazer mal aos humanos, pelo menos em tese, como criou o escritor. A relevância da obra é tão reconhecida mundialmente, que o primeiro robô humanoide a ser lançado pela Honda em grande escala para o serviço doméstico chama-se, compreensivelmente, Asimo, uma homenagem mais do que merecida.
O trunfo do livro não é a técnica literária. Não é esse o cerne da questão (E é, somente, em alguma?). A criação da literatura vincula-se estreitamente à capacidade de reinventar o mundo e sua linguagem. Pode-se dizer que no último quesito não há nada excepcional em Eu, robô, apesar de muito boa linguagem. No entanto, no que se refere à reinvenção do mundo, Isaac Asimov nos enche de curiosidade, esperança e, por que não, otimismo.