sexta-feira, 13 de abril de 2012

paradoxo da publicidade

Tem um sentimento estranho que me consome: o paradoxo da publicidade. Explico: sou fascinado pela ideia de que, com uma boa imagem, um discurso bem ajambrado, uma estratégia de promoção bem feita, as pessoas comprem uma ideia. Não falo de comprar somente com dinheiro; aliás, falo principalmente da ideologia que existe por trás de tudo que é vendido. Uma marca de roupa ou uma instituição de combate à violência contra os animais - tudo é ideia. Por outro lado, minha fascinação é interrompida pelo nível de alienação que a publicidade pode perpetrar, além da poluição visual que consome nossas cidades (São Paulo é um exemplo marginal. Foi "limpa" nos últimos anos da excessiva poluição visual; os outdoors foram banidos e as fachadas das lojas têm dimensionamento definido pela prefeitura).
Outro dia, consumido por essa contradição de gostar/detestar publicidade nas ruas, principalmente em época quando ela brilha em led ou é feita de um plotter extremamente chamativo, parado num sinaleiro, olhei pra cima e vi um banner com uma propaganda de uma loja de roupa feminina. Não lembro o nome da loja; mas talvez se lembrasse não o poria aqui, não estou recebendo pra fazer propaganda pra ninguém. A imagem de uma mulher palha, magra, com um coque no cabelo e uma roupa que almeja ser bonita, sem nada de muito diferente, vinha acompanhada de um slogan forte, marcante, agressivo: "Desobedeça, transgrida, reinvente - coleção outono/inverno". Reli. Reli de novo. Depois ri muito, ri alto, ri de modo desconsertante. Como é? A dica da loja é para que suas consumidoras desobedeçam, transgridam,  reinventem... e consumam o mesmo tipo de produto que todo dia é consumido por centenas de milhares de mulheres? Será que o escritório que bolou esse marketing tem noção desse paradoxo? Ou será que construiu esse discurso sabendo que suas consumidoras não se dariam conta dele? Como é que uma mulher pode transgredir seguindo uma tendência "outono/inverno"? Desobedecer comprando? Reinventar repetindo padrões? Talvez adquirindo a coleção "primavera/verão", né? Aliás, quem sabe esse banner não influencia realmente as pessoas a refletirem sobre o significado dessas palavras? 
A publicidade tem banalizado as palavras tanto quanto os políticos têm reescrito conceitos de ética e moral ou os líderes religiosos se apropriado do discurso do demônio para convencer seus fiéis a lhes pagarem cifras exorbitantes de seus mirrados salários. É bisonho, mas é real. Quando leio numa revista "a revolução dos cosméticos", só consigo imaginar um creme hidratante com um coquetel molotov na mão e um esfoliante com uma máscara preta na cara. Revolução era palavra do "index" da ditadura brasileira. Hoje está na publicidade ajudando a consolidar o perfil de consumista que todos nós adquirimos com essa nova maré boa de economia em que estamos nos enfurnando. Estamos adaptando o american way of life ao jeitinho brasileiro de gastar em suaves prestações (ou mais parecido com a gente, "de levar vantagem em tudo", como na lei de Gérson).
"A propaganda é a alma do negócio". Essa máxima nunca foi tão verdadeira: os imperativos dos slogans e das imagens pasteurizadas têm transformado essa alma em arma. Os negócios apontam suas armas para nós. O desejo de consumir nos consome, autofágico. Estamos vendidos aos discursos prontos e bastante predispostos à reinvenção do material do qual nós temos sido feitos - plástico. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

meio tenso,
senso sonso,
torço o meio
do pescoço,
absconso.

seio denso
texto torto,
mostro mênstruo
no monstro,
alonso.

é-o: s,x