quarta-feira, 8 de julho de 2009

kokakola


Coca-cola, certo? Certo, colou tanto que hoje, se a empresa desaparecesse do mapa, metade do mundo econômico estaria fudido. A multinacional chegou a tal ponto de magnitude, que no mundo inteiro, onde há Coca-cola, sua marca é maior que deus.
Exagero? Você imagine a cena: quatro pessoas sentadas num congresso ecumênico mundial sobre religiões e religiosidade, vindas dos quatro cantos do planeta, sentadas numa lanchonete e discutindo sobre suas religiões. Provavelmente, partindo do pressuposto de que foram pra um congresso ecumênico, respeitariam a religião do outro, mas sempre com aquela certeza interior silenciosa: "o meu deus é melhor que o deles, sem dúvida". Mas veja que ironia, todos eles poderiam estar tomando o refrigerante preto sem que houvesse um segundo de crítica sobre o outro. Simplesmente porque está enraizado em nossa cultura (ouso dizer em nosso inconsciente coletivo) que é apenas um refrigerante. "O que há de mal nisso?"
Bem, eu não sou um expert em problemas mundiais causados por multinacionais. Nem economista pra dizer bem ou mal de uma empresa que, por ser do tamanho que é, deve causar danos irreparáveis a pequenos ou menores empresários ou mesmo a enconomias locais. Tampouco ecologista pra alertar sobre os riscos que empresas dessa monta causam ao planeta, com seu desmatamento, sua retirada de bens não-renováveis da natureza, a poluição causada pelo transporte de seus produtos, a promoção de uma imagem socialmente legal, que, quando se analisada friamente, perceber-se-á cruel e criminosa.
Eu apenas não tomo Coca-cola. Quando parei, há catorze anos, ainda adolescente, eu ouvi que a Coca patrocinava o apartheid na África do Sul. Indignado, prometi a mim mesmo que não poria mais o refrigerante na boca. Nem sei se era verdade. Talvez fosse lenda punk. Bem, o certo é que desde então, a promessa vem sendo cumprida. No entanto, ingênuo que era, tomava Sprite, Fanta, ia a shows (vou ainda) patrocinados por ela, tomei suco, água, cerveja (ainda tomo) distribuída ou que faz parte do conglomerado chamado Coca-cola. Sei o que deve estar pensando: inútil não tomar Coca. É verdade, acho que é inútil.
Porém, acredite-me, existe um prazer asceta em não fazer algo que todos consideram prazeroso e inofensivo. Não tomar Coca-cola pra mim não é difícil hoje. O hábito fez com que eu me esquecesse qual é o gosto do refrigerante. Difícil é as pessoas entenderem isso. "Nossa, como é que você consegue?", "Ta maluco?", "Não dou conta de viver sem" etc. Cansei de ouvir isso nesses últimos catorze anos. E, quer saber, dou a mínima. Não sinto falta, acho que colaborar com a promoção da marca é aceitar tudo o que o sistema impõe. Não vou bancar aqui o anarquista que levanta bandeira. Nem tanto ao mar, nem tanto à praia. Consumo produtos "errados" também, colaboro com um monte de coisa torta que eu nem tenho ideia (como 99% dos consumidores mundiais), mas uma coisa é preciso reconhecer: dessa religião eu não faço parte.
Agora está na moda não só o refrigerante. Está na moda fantasiar-se de Coca-cola. Tenho visto uma multidão de mulheres usando calças (coca-)coladas como se o conteúdo delas fosse o próprio refrigerante. O que é pior? Essas mulheres pagam uma fortuna numa calça dessas pra fazer propaganda pra empresa. Sim, porque andar com a logo da Coca na bunda é fazer propaganda do "lado Coca-cola da vida".
Comecei falando de deus, terminarei. No Brasil, mais especificamente no Maranhão, há um refrigerante cor-de-rosa chamado Jesus. Nem é preciso dizer que Jesus é um sucesso, vivemos num país cristão que assimila bem a imagem divina associada a objetos que possam ser consumidos (isso deve incluir a palavra nas igrejas também, já que dinheiro lá é importante para a manutenção do fiel [ou do pastor, essa frase ficou ambígua!]). Sabe de uma metáfora? A Coca comprou Jesus.
Fim do desabafo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

conversa


Galera, finalmente saiu do papel e do computador e agora está nas camisetas! Sim, a Conversa de Boteco Camisetas finalmente está pronta! Agora estou trampando também com camisetas personalizadas.
O papo é o seguinte: adoro camisetas. Todos perguntavam onde eu compro minhas camisetas. Muitas eu compro em qualquer lugar, a estampa é o diferencial e isso eu mando fazer. Aí sempre querem ter uma camiseta única ou igual a minha ou parecida ou totalmente diferente ou...
Pois bem, se você queria uma camiseta e não tinha como fazê-la, agora tem grandes chances de isso acontecer comigo, aqui, na Conversa de Boteco.
A princípio o lance é bem informal, estou recebendo dezenas de encomendas, mas ainda não tenho uma estrutura física ou algo do tipo. Entretanto, não é preciso quando vc tem uma ideia legal na cabeça e me passa pra fazer a camiseta pra você. E é simples, escreve pra conversadb@gmail.com com uma ideia, um desenho ou uma dúvida que eu te respondo.
As camisetas estão lindas. Confira no perfil do Conversa de Boteco no Orkut. Digita lá, "Conversa de Boteco", ehehheheh, o amarelinho é nóis.
Abraços a todos que me visitam!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

redação


Todos sabem que redação é minha vida. Todos sabem que sem escrever não fico e sem falar disso não vivo. Dar aula pra mim é bem mais que um ganha-pão, é profissão de fé, é amor à causa, é crer que a escrita pode mudar o mundo, porque é lendo, informando-se e, sobretudo, pondo pra fora o que somos em palavras e textos, é que atingimos nossas metas. Das incipientes às derradeiras. Também não é segredo pra ninguém que, ao entrar numa sala de aula, tento colocar no quadro, na voz e no amor que tenho pela escrita tudo o que aprendi. Tudo mesmo. Já me vi inúmeras vezes tratando de assuntos e textos com alunos que nem na Universidade eu vi. Sou topetudo e bato de frente com o que não concordo nos livros. Exponho isso aos alunos e deixo o peito aberto pra aprender com os erros e críticas. Inclino-me a uma boa retórica que se me apresenta, mas curvo-me diante de um bom argumento. E a Universidade Federal de Goiás sempre foi um bom argumento pra mim, mesmo quando vacilou em seus vestibulares (o manifesto no lugar de uma carta aberta, em 2008, é só um exemplo). Sempre segui a teoria dos gêneros discursivos adotados pela instituição (que os adota desde 2003) e faço questão de frisar que, se hoje ela abandonasse esse estilo de prova e retomasse o da tipologia (dissertação e narração), eu continuaria trabalhando o gênero, porque acredito que é nele que realizamos o mundo real, nas revistas, nos jornais, nas pequenas publicações, na televisão, na escola... enfim, na vida. E até hoje, desde 2003, não houve um ano em que não fui surpreendido pela prova, seja pelo tema, seja pelas modalidades de texto exigidas. Surpresas, na maior parte das vezes, boas. Contudo, a surpresa que tive hoje foi desagradável, teve gosto amargo e de proposta errada. O tema foi indiscutivelmente interessante ("O papel da arte na vida cotidiana: utilitário e/ou estético?"). Inovador, instigante, necessário, útil, enfim, não tenho do que falar dele, excelente, como inúmeros. Porém, no que concerne aos gêneros, a impressão de que a UFG quer "aparecer" pro mundo acadêmico foi patente. A primeira pergunta que me veio à mente foi: por que gêneros totalmente inusuais no lugar dos presentes em nosso cotidiano? Pedir aos candidatos Biografia? Discurso de formatura? Da carta eu nem falo, porque foi o único certo a meu ver. Agora os dois primeiros... Quando falo em gênero discursivo, espero que meus alunos entendam as várias manifestações dos textos frente à realidade, ao cotidiano, ao mundo. E não posso deixar de falar que o meu norte, e o de outros tantos professores de produção textual da cidade, é exatamente essa prova da UFG. É ela que nos dá a deixa do que trabalhar em sala como sendo o possível e o real. E se já é impossível trabalhar todos os gêneros em todo o ensino médio (considerando que hoje o ensino médio tem dois anos e um pré-vestibular no terceiro), quiçá trabalhar aqueles totalmente improváveis. Não estou aqui choramingando por não ter "acertado" os gêneros exigidos. Longe disso. Aplaudi a instituição quando editorial (2005), artigo de divulgação científica (2006) e carta aberta (2006) foram pedidos, mesmo eu não os tendo trabalhado em sala. A minha crítica é que se o norte que deveríamos tomar em sala é o de que "tudo é possível de ser pedido", daqui a pouco os referenciais serão poucos pra sustentar na cabeça desses jovens, que ingressam na universidade sem saber por que escrever é necessário, a importância de se estudar os gêneros e não só os tipos de texto. Temo ter que iniciar o próximo semestre trabalhando em sala horóscopo, receita médica e bilhete escolar, na esperança de meus alunos entenderem o que é o gênero pra UFG. Sei que gênero é aberto, e tudo é possível e híbrido. Mas precisamos de um mínimo de limite, um mínimo de coerência. Se o objetivo da banca é fazer-nos refletir com os alunos sobre as condições do gênero discursivo no mundo, ótimo, então que ela promova simpósios e minicursos, como os que fazia a minha amiga Mary Fátima Lacerda, para que a comunidade alcance o que está na cabeça e no propósito dos avaliadores, porque, sinceramente, nem todo gênero ajuda o outro. Assim como a UFG nos deu a mão agora, nesta prova, pra nos empurrar. Os examinadores e responsáveis por esta prova (e por outras de outros anos) certamente não se colocam no nosso lugar. Se o fizessem, talvez pensassem que um mínimo de relação com o verdadeiro cotidiano a prova deveria pedir. Biografia é texto que a maioria dos candidatos nunca leu. Ou mesmo produziu. Discurso de formatura, talvez o primeiro com o qual eles tenham contato será no final deste ano, quando terminarem o terceiro ano e um infeliz da turma for o escolhido pra puxar o saco da instituição onde estuda e lembrar das patacoadas dos alunos durante o ensino médio. Honestamente, a UFG nunca esteve tão distante dos meus ideais - que eu julgava os mesmos da instituição onde estudei e que tanto respeito. Parece que a redação vai voltar a ser um "bicho de sete cabeças". Estou sem chão pra iniciar o próximo semestre. Já sei, vou começar com a proposta "Minhas férias" > relato pessoal bucólico-psicológico. Quem sabe não cai no final do ano?

domingo, 17 de maio de 2009

escreveler

Desculpem os séculos sem publicação. Essas muitas aulas têm me tomado o tempo até de lembrar que tenho uma vida aqui. Sei que alguns vêm aqui ansiosos por textos novos, engraçados, desgraçados etc.
Porém, hoje apresento a vocês A escrita culinária, meu mais recente artigo sobre ler e escrever. Usei-o na específica e obtive relativo êxito (kkkkk, que linguagem é essa, guga?)
Espero que seja útil pra vcs.Abraços e beijos.

A escrita culinária


Escrever não é fácil. Nunca foi. Quem gosta de escrever admite ter facilidade para a produção textual, mas isso se deve provavelmente à quantidade de leitura do indivíduo, que por sua vez deve ser boa, bem como sua prática constante.

No entanto, na hora de escrever, um turbilhão de ideias pode invadir a mente dos menos otimistas para a escrita, tornando o trabalho muitas vezes penoso, cansativo e – na pior das hipóteses – inútil. Num outro extremo, o vazio de conteúdo também dificulta a tarefa de redigir, uma vez que é por meio das palavras, quer orais quer escritas, que se expressa o pensamento, e se não se pensa em nada no momento da redação, difícil será produzir alguma coisa.

O que fazer nesses casos de conteúdo em excesso e em falta? Ao escrever, devemos ter em mente que estamos num processo de manipulação da linguagem e do nosso leitor. Sim, quando escrevemos, fazemos o outro pensar o que quer que queiramos que ele pense. Por exemplo, neste momento você deve estar pensando em quantos quês usamos na frase do período anterior. Pois é, era exatamente o que queríamos. Claro que esse exemplo ilustra minimamente o que podemos fazer com a linguagem.

Em âmbitos mais ousados, podemos inserir informações perniciosas no texto sem que o sujeito leitor se dê conta de sua gravidade e acabe deglutindo, a partir de alguns referentes – como a ideologia –, uma verdade constituída ou falaciosa. Para exemplificar, tomemos o caso de algumas publicações de circulação nacional que, ao redigir suas matérias, deixam claro suas intenções persuasivas, maquiando a verdade como universal, quando é particular. Escrever é manipular, voltamos a dizer. Perspicaz é o leitor que compara notícias.

No que se refere à sala de aula, encontramos alguns escritores/leitores com dificuldade para redigir aquilo que lhes é pedido simplesmente porque não há um processo consciente de leitura. Ler, mais do que meramente interpretar símbolos em sons e significados superficiais em assuntos, é notar o que não foi lido. Para interpretar textos, é necessário que leiamos não só o diagrama que se nos apresenta, mas todo ele, o além dele, o aquém dele, o antes e o depois dele. Ou seja, é preciso ler o que não está escrito, ver o que não foi pensado, acompanhar um campo semântico racionalmente, fazer conexões entre os parágrafos e notar a função dos conectores dentro do texto São eles os responsáveis pela “costura” (coesão) textual e, por conseguinte, pela “harmonia” (coerência) das ideias.

Assim, não é tendo ciência do que é leitura para que escrever se torne algo fácil ou habitual, como ferver um leite ou passar manteiga num pão. Aproveitando a cozinha do último exemplo, escrever é fazer a laboriosa e complicadíssima massa folhada. Complicada porque laboriosa, acrescente-se. Ela requer manuseio de alguns ingredientes, que têm de ser colocados na hora certa, sovados na hora certa, descanso, testes de consistência, atenção às quantidades de ingredientes, paciência, mais descanso, perseverança, cuidado, um pouco de astúcia, mais sova e mais descanso. Como se vê, nosso prazer pela leitura advém de um processo longo e auspicioso da parte de quem escreveu. E comer rapidamente o croissant é não valorizar todo o trabalho que a massa folhada deu para fazer. Pior, é não entender os sabores todos que um texto simples pode proporcionar a nossa imaginação e inteligência.

Escrever não é fácil. Se alguém disse que era, estava escondendo uma verdade talvez não absoluta, mas original: escrever, quaisquer textos, é essencial. E quem tem prazer com o essencial, como o amor ou o respeito ao outro, não sente as dores do processo de redação, porque não as vê. Mas que elas existem, ô.

segunda-feira, 9 de março de 2009

epilepsia

Sou epilético. Isso é um fato. Desde 1996 tomo remédios para controlar minhas crises. Predominantemente, elas são do tipo mioclônicas, que são um tipo de crise espasmódica. É como se eu levasse um susto, um baita susto. Mas tive de tomar remédio quando, no final daquele ano, daquele longínquo 96 eu tive uma crise tônico-muscular: apaguei, me retorci, mordi, estive fora do mundo por uns segundos. Acordei com meus familiares por cima de mim, eu sem saber do que se tratava, queria logo me por de pé, queria fingir que nada havia acontecido. Mas havia. Desde então eu passei a tomar remédio controlado. Durante muitos anos, tomei Edhanol 100 mg, um tipo de fenobarbital. Esse remédio me causa sonolência e lerdeza extra, pra o já muito esperto aqui.
Até que um dia não tinha dele na farmácia e o farmacêutico me vendeu o genérico. Parecia que eu tinha descoberto a pólvora, o remédio era ótimo.
Tomei dele uns muitos anos. E então conheci minha atual neurologista, que me sugeriu outro medicamento "mais eficaz para o seu tipo de problema", dizia ela. Mas isso foi depois de eu já ter tido uma segunda crise tônico-muscular, também em casa, também rodeada de parentes. Eu havia ficado três dias sem tomar o medicamento (esquecimento, farra em excesso, irresponsabilidade).
Tudo corria bem até eu dar esse tanto de aula que estou dando hoje. Estou tendo pouco tempo pra mim, estou tendo pouco tempo pra minha saúde. Sexta eu não tomei medicamento. Sábado também não. Bebi um tantão de cerveja ainda por cima. Que que me aconteceu? Tive ontem a pior crise tônico-muscular da minha vida. Eu estava em frente à farmácia, descia do carro do meu amigo Chikão, minha mulher no banco detrás, quando já havia aberto a porta, despequei e só se ouviu o barulho seco da minha cara no cimento. Até meus próximos chegarem, eu já estava todo esfolado. Quando digo todo, estou dizendo muito mesmo. Só pra constar: um esfolado entre os dedos dos pés, um em cada "ossinho da miséria", dois em cada joelho, na mão esquerda também dois esfolados (esta inclusive está dormente até agora dos espasmos), uns hematomas sobre o ombro direito e na minha cara, a pior parte: esfolei o rosto entre a têmpora e o olho direito. Este, inclusive, está inchado como se eu tivesse apanhado no jogo do Vila. Além da minha língua, que mordi na ponta e na lateral direita.
Resumindo: estou um trapo humano, o restolho de gente, um nada, um estragado, um devolvível, um vencido, um loser.
Mas acredite, ainda consigo dar boas risadas. É claro que dói em várias partes do corpo, mas não paro de rir. Ah, e sim, estou tomando regularmente meu remédio. Sei que vcs querem me matar pela minha irresponsabilidade (que não é só minha culpa...), mas digo-lhes: estou bem.
Não bati a fonte no chão (bati a centímetros dela), não quebrei nada, não perdi nenhum membro, não perdi nenhuma função motora, não estou aleijado, não estou nada, só estou feio.
Porém, tenho a impressão de que feio eu sou quase sempre, hehehehe, então nem sofro muito.
Depois escrevo sobre como vc deve reagir quando alguém tiver uma crise convulsiva perto de vc. Uma dica: NÃO PONHA SUA MÃO NA BOCA DA PESSOA, ELA NÃO ENGOLIRÁ A PRÓPRIA LÍNGUA, COMO PARECE. DEITE-A DE LADO!
Abraços a todos.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

aforismo

Eu adoro aforismos, essas máximas que costumam trazer mais do que a verdade universal, mas a verdade individual de seus autores. Num átimo de bobeira, um autor tem seu insight na forma tal de uma epifania que pronuncia (ou escreve) a sequência exata de palavras que se tornam o totem ao qual reverenciamos ou meramente damos as costas.
Ando querendo publicar uns desaforismos aqui no tessitura. Quem sabe. Segue este belíssimo aforismo sobre escrever, do Calvino. Dedico-o aos companheiros blogueiros e alunos aplicados em composição.


"Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto" - Italo Calvino.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

ii - soneto


Comendo teu corpo em chamas,

sorvendo teu ventre sem vestes,
estamos, bem perto, prestes
a fervermos nessas camas.


Tal o fogo por que clamas,
é como sempre estivesses

a queimar em tuas preces
meu templo após plenas flamas.

E assim, cinzas acabadas,

depositados em urnas,

esperamos nova lida


com faíscas cintiladas

e nossas vontades unas

pras labaredas da vida.



i

Pra quem me perguntou o que era prosa poética... mas já adianto, isto não é uma boa resposta.
___________________guga




Muito tempo sem escrever. Acho que perdi a mão. Ou ela não me respeita mais. Ou invento desculpas para não praticar. Ou jogo no pc para despistar a vontade. Ou releio os recados e me xingo. Ou apenas desabafo com minha consciência suja. Ou desrespeito os meus poucos leitores. Ou lembro que minha leitura está atrasada. Ou recito versos, crio poemas, estudo linguística, sonho com motos e pessoas, bebo cervejas, como carnes, rio, rio, rio e volto à mesma míngua mole e massificada dos meus textos infinitos – porque, veja só, não os finalizei.

Leio Clarice Lispector e Fernando Sabino trocando cartas. Leio Huxley via e-book. Leio Veja pra ter sempre o que falar, mesmo quando não houver significado. Leio os filmes que vejo. Leio as pessoas. Leio a rua. Leio as nuas. Leio esse-eme-esses. Leio Rolling Stone e títulos de spams. Letras punks eu não leio. Eu as ouço.

Sinto cheiros, lato, perco a voz, solto, insulto alguém, insinuo fadigas, corro, tenho vontade de correr como Gump e contar histórias tão bem quanto ele. E, num processo de autodepreciação incrível, religiosamente pareço não acreditar em milagres. Eu não acredito neles. Eu não acredito. Eu não. Eu. Eu, quem?




Seus textos sempre me afetam. Minha pele muda de cor quando eu estou perto dessas letras. Não estou nu, mas poderia. Até um soneto eu fiz.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

infantil

Recebi por e-meio, não sei quem é o autor... mas é massa!

- E aí, véio?
- Beleza, cara?
- Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.
- Quer conversar sobre isso?
- É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me botando um terror, sabe?
- Como assim?
- Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar. Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu fiz pra essa mina querer me pegar? Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com alguém?
- Nunca.
- Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai foi fazer na roça?
E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo ela ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?
- Sabe a sua vizinha ali da casa amarela? Minha mãe diz que ela tem uma hortinha no fundo do quintal. Planta vários legumes. Será que sua mãe não quis dizer que seu pai deu um pulo por lá?
- Hmmmm. Pode ser. Mas o que será que ele foi fazer lá? VIXE! Será que meu pai tem um caso com a vizinha?
- Como assim, véio?
- Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear. Então ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É isso, cara. Eu sou
filho da vizinha. Só pode!
- Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões precipitadas.
- Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo de umas coisas estranhas sobre a minha mãe.
- Tipo o quê?
- Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato. Assim, do nada. Puta maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com o bichano!
- Caramba! Mas por que ela fez isso?
- Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.
- Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.
- E sabe a Francisca ali da esquina?
- A Dona Chica? Sei sim.
- Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá, paradona, admirada vendo o gato berrar de dor.
- Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra entender.
- Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe, né? Ela me contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não gosta muito de mim.
Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.
- Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia fazer isso com o filho.
- Mas é ruim saber que o casamento deles é essa zona, né? Que meu pai sai com a vizinha e tal. Apesar que eu acho que ele também leva uns chifres, sabe? Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara,
que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele de 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em tudo, só pra ele poder
passar desfilando e tal.
- Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.
- É. só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo veio me falar que a vizinha cria perereca em gaiola, cara. Vê se pode? Só tem louco nessa rua.
- Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?
- Putz, é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

ímpeto

Vontade de gritar! 10 anos de Ímpeto.




O texto que vc lê abaixo é do meu amigo André "Alemão" Ërl, grande companheiro de banda e de sala de aula. Nós formamos o Ímpeto em 1998 e ele conta a história da banda através das suas memórias. Eu não acrescentaria nada, nem tiraria, porque o bicho escreve bem pra caralho.
Pra quem quiser conhecer o som (?) do Ímpeto, segue o link da última gravação (Canções para novelas globais). ATENÇÃO: SE VOCÊ TEM OUVIDOS SENSÍVEIS, ESTÔMAGO FRACO, MEDO DE ALTURA, PROBLEMAS CARDÍACOS, OTITE, FOTOFOBIA, MEDO DA SUA MÃE, NÃO BAIXE, VOCÊ CORRE O RISCO DE SOFRER AS GRAVES CONSEQUÊNCIAS DE QUEM SE ARRISCA. NÃO RECOMENDADO AO BOM GOSTO.

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Cara, lá se vão 10 anos. Permitir-me-ei usar alguns lugares-comuns aqui: como foi rápido, parece que se passaram 10 meses de Ímpeto. Não, não pretendo resenhar minha própria banda, não sou tão estúpido. Mas deixa eu dizer pra vocês algumas coisas sobre o Ímpeto, que irão soar mais como memórias, relatos de algo que fiz e faço e que julgo legal.
Uma brincadeira de 4 amigos de ETFG, que começou com o bizarro nome de “Screaming in Silence”, em 1997, e que duraria 3 ou 4 ensaios. Depois, como Ímpeto, no início de 1999, o primeiro show (se é que se pode chamar assim) com menos de 10 sons, incluindo alguns covers, no Cantoria, que recebia o 1º Domingão da Brodagem. Isso mesmo, cara-de-pau imensa, em madeira de lei, da nossa parte. Bacuras e Didi gritando, Jander no baixo, Guga Valente baterista e André Erl (ainda sem o Alemão) na guitarra.
Tento não me render ao saudosismo: a experiência no Cantoria ainda mexe muito comigo. Participei diretamente da organização dos “Domingões”, na Liga Hardcore de Goiânia. Tempos de extremismos bobos, típicos da adolescência. Enfim, lembrar de tudo aquilo me emociona de verdade.
Desse extremismo também vinha a proposta estética musical do Ímpeto: antimúsica (acertei a nova grafia?), subverter a estrutura da música. Assim eram feitos os sons.
Muitos shows aqui, também no DF, algumas cidades do interior. Pouca divulgação, pouca importância em estabelecer padrões para o som, e o compromisso apenas com o bem-estar em se fazer música barulhenta. Tosco por opção, por ideal, he, he, he...
Talvez por nascer como um projeto alternativo de seus integrantes (Bacural, Guga e eu tocávamos em outras bandas), o Ímpeto nunca tenha sido a real prioridade, dentro do rock, para seus membros. Isso é um palpite, não é uma verdade. Mesmo em fases onde o som fluía numa facilidade espantosa.
Quando Júlio WCM entrou para as baquetas do Ímpeto, a banda deu um salto de qualidade visível. Compúnhamos músicas novas em todos os ensaios. O grande problema é que estes aconteciam (e acontecem) a cada seis meses. Acredite. E muitos sons legais eram esquecidos. Tocamos inúmeras vezes sem ensaios. Sim, este folclore é verdadeiro. Não é lenda não. Mas o entrosamento entre nós é tão grande, que tocar os sons antigos, de 10 anos atrás, é quase automático.
Eu costumo chamar de “fases” alguns momentos distintos da banda. Eu já estive fora do Ímpeto por mais ou menos um ano. Cheguei a pogar em show do Ímpeto, sem estar na formação. Foi quando Guilherme C(h)oice esteve na guitarra, meu posto na formação original. Dedicava-me exclusivamente ao Kundaline, neste ínterim.
Daniela Canhête, ex-Èlet, esteve conosco. Vi poucas pessoas, em 16 anos de rock, com sua atitude. É alguém que tenho no meu panteão goiano do rock. Ela sabe disso.
Lúcio Didi é nosso Chuck Norris. Não houve, não há e não haverá baterista mais pedreiro que ele. Furando peles constantemente, em ensaios e shows, devido à força com que batia. O cara era 0% de gordura, e levantava caminhão de brita com dois dedos. Uma das pessoas mais sinceras e honestas que eu conheci na vida inteira, nestes 29 anos.
Janderjans Monteiro, o Jander Joaninhas, o cara da flanela. O primeiro baixista do Ímpeto. Cidadão tocantinense, espírito de baiano, contador de “causos”. Passou muito tempo sendo baixista sem o ser! Ha, ha, ha, ha!!! Companheiro das 1ªs brejas, após nos tornarmos “caídos”, ex-straight edgers. Putz...
Nunca ri tanto enquanto Alexandre Senhori WCM esteve no Ímpeto. O cara é uma figura! Espontâneo, nos matava de rir nos ensaios. Virtuoso, inventava suas próprias bases, que nada tinham a ver com os sons. Descobrimos isso e mais uma vez, demos pala. Nino, do Castelo Rá-Tim-Bum.
Vegetarianismo. Eis um mote permanente nos primeiros anos. Éramos todos vegetarianos. Alguns inclusive se rotularam SxE. Fiz isso num curto espaço de tempo, mas fiz. Não usávamos álcool, nem marijuana. Garotos bem-comportados. Nagávamos uma boa picanha maturada, passávamos longe de um cupim gotejando colesterol. Histórias mil de sofrimento por estes ideais, que faziam todo sentido, anos atrás, pra nós da banda. Quantos "X-Quaresma" detonamos? Quantos litros de refrigerecos diversos (Coca-Cola era pra vendidos alienados)? Hoje, apenas Bacural e Júlio continuam se alimentando saudavelmente. Devem ter muito menos colesterol que eu, são bem mais magros, mais ágeis, não ficam bêbados nunca... enfim, COITADOS! Não sabem o que estão perdendo, he, he, he, he... Estou cooptando Júlio pro meu time. Já tenho excelentes resultados.
A primeira demo foi em K-7, tosca. Um ou outro material em coletâneas pelo Brasil afora, e só.
O novo material mescla sons antigos e novos. Vai ser lançada de forma organizada. Pretendemos dar um gás novo ao Ímpeto, tocando mais, ensaiando e compondo mais.
O Ímpeto é assim, existe porque a necessidade de gritar às vezes é muito urgente. Existe porque a amizade ali é forte demais. Existe porque já virou lenda, folclore caricato da atitude moleque hardcore. Existe porque é sincero, ninguém ali faz pose. Existe porque é necessário na vida de seus integrantes atuais: Bacuras, Júlio, Guga e eu. Da minha parte, hardcore até onde der!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

falha

Eu ia pedir desculpas... Mas pra quê, se a culpa não foi minha? Eu até intencionava atualizar o blog todos os dias, como havia prometido. A internet da casa onde fiquei (e que casa... depois falo mais dela) caiu no dia seguinte à minha última utilização. Pergunta se voltou. Voltou nada, fiquei lá todos esses dias sem atualizar. 
Agora estou retornando a Goiânia cheio de alegria pelos dias vividos em Floripa. Que cidade. Que praias. Fiquei num bairro (?) chamado Jurerê Internacional, frescura de minha irmã. Mas que frescura boa, que lugar. Beverly Hills brasileira. Até tirei foto dos carros loucos que vi lá. Mas depois eu falo disso, agora quero só me justificar de não ter estado aqui como prometi, mas foi por força maior, nem foi falta de tempo.
Enfim, amanhã chego a Goiânia, feliz, feliz...
Abraços a todos e feliz ano novo!