Da época de solteiro, ainda. E sob protestos de publicar mais vezes. O povo acha que sou um poço de criatividade. Posso com um trem desses?
Nunca subestime uma atendente de telemarketing
– Ã.
– Bom dia! Com quem estou falando?
– Guga.
– Bom dia, senhor Guda, aqui quem está falando é a Érica, da Brasil Telecom, eu...
– Érica!?
– Sim, eu...
– Érica! Que bom falar com você! Quanto tempo mulher!
– Não, o senhor deve estar se enganando, deve estar me confundindo com alguma amiga sua.
– Ah, pra cima de mim, Érica? Que bacana você trabalhando aí, nessa empresa grande, me ligou pra contar?
– Não, eu estou ligando para estar apresentando pro senhor os nossos serviços, o senhor por acaso...
– Sei, serviços, né? Ah, ah, ah. Érica, safadinha, sempre a palhaça da turma. Querendo passar um trote em mim...
– O senhor não está entendendo. Se o senhor deixar eu estar falando, eu vou estar explicando o que está acontecendo!
– Hi, hi, hi. Continua.
– Meu nome é Érica Veloso, trabalho na Brasil Telecom há dois meses como atendente de telemarketing e definitivamente eu não o conheço, senhor Buga.
– Certamente não, meu nome é Guga...
– Buda, Guda, Lula, dá no mesmo. Não conheço ninguém com apelidos assim.
– Pois bem, Érica Veloso da Brasil Telecom, que que cê manda?
– Então, estou ligando pra estar oferecendo pro senhor o nosso serviço de espera.
– Espera aí um pouquinho, toss, toss, estou tendo um acesso, toss, toss... de tosse...
Dois minutos de tosse depois.
– Ai, alergia danada... Então, meu bem, você ia dizendo.
– Estou ligando pra estar oferecendo pro senhor o nosso serviço de espera.
– Espera mais um minutinho aí, rapidinho.
E, aos berros, sem tirar o fone da boca:
– Ô Mara, põe mais água no feijão que o Black disse ontem que vem almoçar aqui, aquele folgado!
– Mas ele não está viajando? Pergunta Mara – a que dialoga com a gente enquanto estamos ao telefone.
– Não, já voltou. Desculpe. Serviço de quê, Érica?
– Disso que o senhor está fazendo comigo, ESPERA!
– Ah, acho que não preciso. Basta que eu diga pra pessoa esperar que ela, pacientemente, espera. Que decepção. Pensei que fosse minha amiga Érica, que não vejo há tanto tempo.
– O senhor acha que podemos estar ligando pros nossos amigos daqui? Aqui a gente só pode estar ligando pra gente desconhecida!
– Mas acontece que Goiânia é um pequi roído... hora dessas você acaba trombando com alguém.
– E eu ando tão sozinha...
– Pois então! Talvez esteja na hora de você procurar alguém.
– O senhor não quer sair comigo, senhor... senhor... Gumba?
– Guga!
– Desculpe-me. Esse serviço acachapante tem-me custado a vida nos últimos tempos.
– Acacha-quem?
– Pante.
– Vamos sair! Sem dúvida! Com certeza. Hoje mesmo.
Nunca deixe de conhecer uma mulher que te impressiona com o vocabulário, ela pode ser daquelas, tipo ostras, que têm pérolas esquizóides lindas saindo da boca a cada minuto. É, no mínimo, diversão na certa.