domingo, 27 de abril de 2008

telemarketing

Da época de solteiro, ainda. E sob protestos de publicar mais vezes. O povo acha que sou um poço de criatividade. Posso com um trem desses?


Nunca subestime uma atendente de telemarketing

Outro dia estava, concentradíssimo, fazendo nada (que pra se fazer nada direito, tem de estar concentrado nisso) e eis que o telefone toca. Duas. Três. Cinco vezes. Antes de tocar a sexta eu estico o braço e pego-o no criado-mudo ao lado.

Ã.

Bom dia! Com quem estou falando?

Guga.

Bom dia, senhor Guda, aqui quem está falando é a Érica, da Brasil Telecom, eu...

Érica!?

Sim, eu...

Érica! Que bom falar com você! Quanto tempo mulher!

Não, o senhor deve estar se enganando, deve estar me confundindo com alguma amiga sua.

Ah, pra cima de mim, Érica? Que bacana você trabalhando aí, nessa empresa grande, me ligou pra contar?

Não, eu estou ligando para estar apresentando pro senhor os nossos serviços, o senhor por acaso...

Sei, serviços, né? Ah, ah, ah. Érica, safadinha, sempre a palhaça da turma. Querendo passar um trote em mim...

O senhor não está entendendo. Se o senhor deixar eu estar falando, eu vou estar explicando o que está acontecendo!

Hi, hi, hi. Continua.

Meu nome é Érica Veloso, trabalho na Brasil Telecom há dois meses como atendente de telemarketing e definitivamente eu não o conheço, senhor Buga.

Certamente não, meu nome é Guga...

Buda, Guda, Lula, dá no mesmo. Não conheço ninguém com apelidos assim.

Pois bem, Érica Veloso da Brasil Telecom, que que cê manda?

Então, estou ligando pra estar oferecendo pro senhor o nosso serviço de espera.

Espera aí um pouquinho, toss, toss, estou tendo um acesso, toss, toss... de tosse...

Dois minutos de tosse depois.

Ai, alergia danada... Então, meu bem, você ia dizendo.

Estou ligando pra estar oferecendo pro senhor o nosso serviço de espera.

Espera mais um minutinho aí, rapidinho.

E, aos berros, sem tirar o fone da boca:

Ô Mara, põe mais água no feijão que o Black disse ontem que vem almoçar aqui, aquele folgado!

Mas ele não está viajando? Pergunta Mara – a que dialoga com a gente enquanto estamos ao telefone.

Não, já voltou. Desculpe. Serviço de quê, Érica?

Disso que o senhor está fazendo comigo, ESPERA!

Ah, acho que não preciso. Basta que eu diga pra pessoa esperar que ela, pacientemente, espera. Que decepção. Pensei que fosse minha amiga Érica, que não vejo há tanto tempo.

O senhor acha que podemos estar ligando pros nossos amigos daqui? Aqui a gente só pode estar ligando pra gente desconhecida!

Mas acontece que Goiânia é um pequi roído... hora dessas você acaba trombando com alguém.

E eu ando tão sozinha...

Pois então! Talvez esteja na hora de você procurar alguém.

O senhor não quer sair comigo, senhor... senhor... Gumba?

Guga!

Desculpe-me. Esse serviço acachapante tem-me custado a vida nos últimos tempos.

Acacha-quem?

Pante.

Vamos sair! Sem dúvida! Com certeza. Hoje mesmo.

Nunca deixe de conhecer uma mulher que te impressiona com o vocabulário, ela pode ser daquelas, tipo ostras, que têm pérolas esquizóides lindas saindo da boca a cada minuto. É, no mínimo, diversão na certa.

sábado, 19 de abril de 2008

flato

Elevador no gás

Estava no nono, queria ir pro décimo segundo. Mas aí, toda vez que o elevador parava, era pra descer, apesar de eu apertar o botão pra subir. Daí que eu me cansei e o peguei logo mesmo na descida, na companhia de um menino com cabelo por crescer, desses pré-adolescentes. Quarto andar, ele desce. O elevador vai até o térreo, apesar de eu ter certeza de que ninguém mais vai subir nele. Vontade absurda de peidar. As portas se abrem. Ninguém entra. Sai devagar e silencioso o gás que me queria escapar faz tempo. Uns cinco segundos depois, começo a sentir seus efeitos.

Mas aí o elevador decide parar no segundo andar. Entra uma distinta senhora com roupa de ginástica, caminhada, algo assim, a calça nas cores preta e branca. Ela dá um “boa tarde” que decai no “arde” bruscamente. Ela sente o futum, olha pra mim (que olho pro teto) e pergunta: “Como você tem coragem de soltar um peido desses num elevador?” Muito sem graça, mas achando que ela não tinha o direito de me afrontar no que tange às leis das necessidades naturais, decido discutir:

- Olha, a senhora vai me desculpar, mas eu estava com muita vontade de fazer isso. Até esperei o elevador subir outra vez pra que eu pudesse, sozinho, dar conta dessa bufa, então a senhora vai desculpando aí. A culpa é da senhora que entrou.

- Que absurdo! Você ainda assume!

- E o que eu faria se não assumisse? Colocaria a culpa no botão do elevador pra tirar o meu da reta?

Silêncio. Ficamos os dois incomodados e constrangidos enquanto o elevador subia rumo ao décimo segundo.

Chegávamos no sexto e o futum ainda persistia soberano no recinto.

- Mas que espécie de flato é esse que você liberou que até agora não baixou? Ele está aceso como se fosse recente!

- Normalmente os peidos não duram mais do que cinco, seis segundos, mas esse é o longa vida.

- Que história é essa?

- É que esse é fruto da bebedeira de ontem. Peido de pinga é quase um pudim de tão denso.

- Argh, que carniça, parece que você comeu um gambá ao molho de cu de abutre.

- Com repolho.

- Nossa Senhora da Abadia, você está podre por dentro, meu filho.

- Talvez melhor que a senhora por fora nessa roupa de Free Willy.

- Que indecente! Além de peidorreiro, é abusado!

- A senhora fala do meu gás como se também não soltasse um peido frouxo todos os dias. Aliás, catorze, que é a média pra pessoas da sua idade.

- Meus flatos não fedem nem fazem barulho!

- Duvido. Com essa bunda aí, quando a senhora peida as nádegas devem bater palmas.

- Olha o respeito, seu podre!

E o décimo segundo andar chegou. Eu ia descendo.

- Só mais uma coisinha: pffffrrrrrrrrr!

- Seu pútrido!

E eu só ouvia as maledicências e ela descendo.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

sexta-feira, 11 de abril de 2008

santos

Recebi por e-meio. Tenho que dividir a imagem com vocês. É o primeiro avião do mundo, criado por Santos Dummont, voou na frança há uns cem anos. Não é uma delícia o(s) 14 bis?




arrebentado


Minha pequena scooter... vai ficar uma nota pra arrumar...

Sofrer acidente veicular não é nada agradável. Já bati o carro (dos outros, o meu, nunca) várias vezes. Já gastei muuuuita grana pagando seguro e dando muita dor de cabeça pros donos dos carros que eu bati (parentes, é lógico).

Bater moto é pior. Eu caí de moto algumas vezes, mas no final de 2006, um acidente tosco quebrou meu pulso em vários pedaços. Foi um saco tomar banho com um saco no braço durante um mês. Vai, desculpa a repetição do saco polissêmico. Eu tava a uns 30km por hora, sozinho, sem carro ou qualquer outra coisa por perto, quando fui fazer uma curva e a corrente da moto caiu, travando a roda. A moto parou; eu voei uns cinco metros e caí sobre o pulso direito. Foi uma bosta de acidente. Mas pelo menos o povo ri quando eu conto.

Hoje ia pra aula, como de costume, quando um imbecil permaneceu parado num sinaleiro que já estava aberto. Ele, provavelmente, estava distraído com um acidente que aconteceu ao lado, um engavetamento. Daí eu olhei o sinal aberto lá na frente, olhei o acidente e quando o sinal chegou, o carro tava lá, feito uma estátua. Daí eu xuxei minha scooter no engate do carro. Tadinha dela, quebrou todinha. Eu não quebrei nada dessa vez. Talvez dê uma quebrada no banco, nas contas de casa, na tatuagem que eu ia fazer (shit!), mas no mais eu to ótimo. Meus joelhos estão parecendo duas bolas de futebol, fora o vidro traseiro do carro que quebrei com minha cabeça. Isso inclusive foi de propósito, na hora eu pensei “vou dar uma cabeçada no vidro na hora que a moto bater, só pra esse otário não sair ileso desse acidente tosco, porque, quem manda ele ficar parado com o sinaleiro aberto? Ele acha que é quem? O Bandeirante da Anhangüera?” claro que pensei isso tudo muito rapidamente. Mas como sempre digo, se melhorar, vira festa.

Não se preocupem comigo, mas se quiserem mandar dinheiro, minha conta no banco do brasil é 10.291-1, ag. 3607-2. Coloquei só por colocar mesmo, você não precisa depositar quantias vultosas lá. Mas vai que você sente pena de mim ao invés de se revirar de rir?

Não ande de moto, nem de carro, nem de ônibus. Ande a pé, que o máximo que pode acontecer é você torcer o tornozelo, romper uns ligamentos e ficar inválido.

terça-feira, 8 de abril de 2008

cinza


Não sei como é a morte. Não parece ser muito gente fina. Ela leva pessoas que não conhecemos, mas leva também os próximos, os amigos, os queridos, os amados. Uma hora, a cordinha da vida acaba e a sensação é exatamente esta: a de puxar num carretel aquele tanto de linha que não sabemos direito quando e onde vai acabar. Uns vivem quilômetros de linha, outros, bem poucos metros. Perdi alguns na vida: foram duas avós, uma quando eu tinha apenas seis anos de idade e a outra mais recentemente, há uns poucos anos. Um avô paterno em 1989. Um primo da minha mãe que o tínhamos como tio em meados de 90. Um melhor amigo de um amigo no final dessa mesma década. Uma filha recém-nascida de um grande amigo. E não muito mais do que isso.

Nessas últimas três semanas, dois pais se foram. O pai do André, colega professor de uma escola e o pai do Césio, hoje. Fui ao Jardim das Palmeiras duas vezes em tão pouco tempo. Fiquei ao lado do Eduardo, um amigo que perdeu a mãe e nunca, nunca se conformou. Conversamos sobre tudo, mas volta e meia seus olhos marejavam, lembrava da mãe, certamente.

Eu tento pensar que a morte é mais uma etapa da vida. Repito isso comigo sempre, porque uma hora ela vai chegar pros meus muito próximos também. Meu pai já é um senhor com idade avançada (mas com cabeça de criança), minha mãe também. Fora meus tios, primos, irmãs, amigos, esposa que estão todos sujeitos a encontrar o final da cordinha e o carretel parar de girar.

Eu tento lembrar das coisas que aprendi nas religiões pelas quais me interesso. Tento acreditar na materialidade da carne, que se desprende da alma num momento x da vida e deixa esta última sempre viva, mas seguindo outro caminho, um caminho diferente que todos tentamos entender, mas nunca aceitamos sem antes derramar o pranto da saudade, da falta, da ausência.

Quando enterraram o pai do Césio, o Eduardo falou que essa é a pior parte, porque você volta pra casa e tem a certeza de não ter mais a presença da pessoa ali. Deve ser muito foda pra nós que ficamos. Para os que vão, acho que se cuidaram bem dos próximos um mínimo, deve ser uma boa viagem de compreensão do que tanto buscamos entender: o sentido da vida.

Talvez seja só isto: o sentido da vida é transformar-se sempre, como a fênix que renasce de suas cinzas, mas nunca volta a mesma, sempre com algo a mais. Talvez seja só sentimentalismo e melancolia. O fascínio pra alguns, o lúgubre pra outros, a redenção pros artistas, o insólito pra uns tantos, a sabedoria pra uns poucos.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

domingo, 6 de abril de 2008

mijando

De mijar na borda do vaso

A mais famosa obra de Marcel Duchamp da sua fase dadaísta ready made, A fonte. Foto retirada de http://www.students.sbc.edu/evans06/images/Marcel%20Duchamp.jpg

A reclamação mais comum das mulheres em relação aos nossos modos higiênicos refere-se a mijar no vaso corretamente. Dizem elas (que não têm pinto) que nós somos “porcos” e ruins de mira, além, é claro, de sermos preguiçosos e não fazermos a limpeza do vaso após urinarmos. (fazemos limpeza de alguma outra parte da casa por conta própria?)

As mulheres acreditam que nós, rapazes, temos uma mangueirinha (alguns têm tromba, outros um quase umbigo protuberante) e que basta a direcionarmos pro vaso que tudo (es)correrá bem. Mas a coisa não é tão simples assim. Na verdade, nossa mangueirinha aumenta e diminui de tamanho várias vezes num dia, dependendo da temperatura ambiente, da noite, do sono (e sonhos) que tivemos, do nosso estado de espírito, do tesão, enfim, de uma série de fatores. Creiam-me, até se o cara tiver dormido de bruços sobre sua mangueirinha pode influenciar, porque se ela estiver amassada, o fluxo xixísico pode se alterar, saindo pela tangente, por exemplo.

Se bebemos muito líquido (água, suco, refrigerante, álcool, solução de bateria, não importa), provavelmente temos um jorro mais forte do que aqueles que bebem pouco. As pessoas com problemas renais também sofrem pra mijar. Às vezes sai só uma seqüência de gotinhas – que invariavelmente caem nas bordas do vaso.

A força com que nossa urina sai também não funciona como uma torneira que é aberta. Nem a gradação com que o líquido sai é uniforme. Às vezes começa devagarzinho e de repente estoura numa tromba de xixi, o que pode conseqüentemente causar o tal problema relatado por nossas queridas mulheres.

Vamos pegar um caso muito comum, em nome de todos os homens sempre cobrados por esse problema. Tem pinto que é torto. Isso já é fator de risco para as bordas do vaso. Além disso, imaginemos que se dorme de bruços. Pra piorar a situação, a ingestão de líquidos não é regular. Ou seja, tem dia que o cara se sente uma foz, tem dia que parece estar parindo um diamante pelo bilau. Mas pra desgraçar de vez a situação, imagine um problema que só pode ser corrigido cirurgicamente: quando o fluxo de mijo aumenta, quer dizer, logo que se começa a urinar, aquele lindo jorro faz um V (só pode ser de vingança, né possível!) e o mijo sai em duas direções. Resultado, o cara fica tentando controlar o pinto pra poder mijar dentro do vaso, mas aí o fluxo diminui porque ele o refreia e quando isso acontece o mijo único volta, daí molha a borda do vaso, ele aumenta o fluxo, vira V novamente aí... aí já viu, é tampa, é chão, parede, papel higiênico, pia, box, pé, caixa de descarga, enfim, acerta-se tudo, menos a rodela do vaso. Pra mim, os vasos sanitários deveriam ser do tamanho daquelas bacias de plástico do R$ 1,99. Errar-se-ia menos.

Dizem as mulheres pra gente mijar sentado. Mas como contrariar uma das únicas coisas que nos faz sentir melhor do que elas? Como ir contra um desejo do tão ansioso Adão? Neca de captibiriba. Vamos continuar mijando em pé o resto da vida, mesmo tendo que fazer uma faxina no banheiro após o ato, ainda temos orgulho de ostentar o desejo do primeiro homem a mijar no pé da existência.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

cartinha

A proposta era a seguinte: os alunos teriam que escrever uma carta pessoal a um amigo. Nesta, deveriam tratar de um assunto “daqueles”, difíceis de ser conversados. Aí teve gente dizendo pro amigo que o traía com a namorada do amigo, gente dizendo que o amigo fedia igual porco, que ele ficava bêbado e inconveniente (ops!, pleonasmo), que ele pegava dinheiro emprestado e não devolvia, enfim, teve de tudo.

Mas aí, a Ana Paula da Silva Assunção, de um semi-extensivo onde dou aula, me escreve a seguinte carta. Boa leitura!

Goiânia, 12 de março de 2008.

Querida amiga Política,

Como você está? Bom, eu me sinto ótima e, embora tenha adorado sua última carta, lamento a demora em respondê-la. Ando muito ocupada com as Células-tronco, o Aborto, a Eutanásia; você sabe, as mesmas coisas que sempre exigem minha presença e que mais uma vez estão em alta devido à campanha da fraternidade deste ano.

Sinto muita falta de estarmos mais próximas, de quando íamos para as discussões no senado, para as assembléias, enfim, da época em que éramos mais companheiras. E, ao contrário do que você possa pensar, jamais esquecerei destes nossos momentos, mesmo quando batíamos de frente ou entrávamos num acordo.

Não sei se isso tem acontecido porque nos distanciamos um pouco, mas ultimamente tenho me aborrecido muito com você; não que você deixasse de fazer certas coisas quando estávamos mais próximas, mas em respeito a mim você pelo menos evitava.

É que você, amiga Política, tem se deixado corromper pelos políticos e tem se tornado cada vez mais corrupta, desonesta, desrespeitando e desiludindo aquele que acreditava e estava sempre com você, o Povo ou, enfim, “quem avisa, amigo é”.

Gosto muito de você, te admiro e acredito em você, sei que você não é assim e que pode reverter essa situação.

Me dói muito o coração quando ouço a TV e o Rádio te difamando ou mesmo o Jornal escrevendo insultos contra sua pessoa. Espero que isso mude e que eu não precise sentir mais esta dor.

Abraços e beijos, carinhosamente,

Ética

terça-feira, 1 de abril de 2008

verdades

Taí mais uma crônica minha fazendo uma análise boba, porém sincera, do que eu entendo de franqueza e sinceridade. Pra mim são duas coisas distintas com o mesmo objetivo, assim como o sarcasmo e a ironia.

Boa leitura!

Da sinceridade e da franqueza


Que diabo é isso na sua mão?

Toma. (e joga o negócio praticamente no peito do outro)

Putz grila... urg... que é isso, velho?

Não tá vendo? Bem, se vira.

Esta situação é bastante comum no nosso dia-a-dia. Freqüentemente encontramo-nos com pessoas que têm como característica a franqueza. Franqueza é o ato de uma pessoa dizer para outra o que tem de ser dito, sem muito se preocupar com o como, com o processo. A franqueza prioriza os fins e não os finais e, por isso, não raro, ela machuca. Tentemos imaginar que objeto é esse que o amigo “entrega” ao outro. Pela expressão do que recebe, pode ser uma bola de boliche, ou uma jaca de 10k. Assemelha-se em peso, forma, textura e impacto quando jogado.

Na verdade, somos muito ingênuos quando pedimos às pessoas que sejam francas conosco. Mal sabemos que a franqueza é quase um estado de espírito. Quando alguém pede que sejamos francos, realmente temos que prevenir. Penso que isso seja até uma forma de preparar o indivíduo, fazer com que ela olhe bem para o “objeto” que será arremessado de nossas mãos em direção ao seu peito. Chamar a atenção não basta, é necessário realmente arremessar a bola de boliche no peito do outro.

Seja franco: eu estou bonita?

Mais ou menos...

Como assim, “mais ou menos”?

Uai, não tá nem tão bonita, nem tão feia.

Rensga, pensei que você fosse um pouco mais sensível.

Temos aí um caso engraçado. A moça pede ao companheiro que seja franco com ela. Ele é, mas parece que não é num primeiro momento. Ao tirar a prova dos nove, ela aí o chama de grosso. Mas que é a franqueza se não um tipo de grosseria – algumas vezes – consentida pelo outro? A franqueza pede que encurtemos o assunto e digamos logo o contexto, sem rodeios.

Algumas pessoas acham que sinceridade e franqueza são a mesma coisa.

Nossa, você ficou horrorosa nesse vestido listado. Tá parecendo uma baleia de tão gorda. Listas horizontais engordam, sabia não?

Não pedi sua opinião...

Ai... agora vai fazer biquinho? Ah, tenha dó.

Nesse caso aí, a primeira personagem poderia ter sido um pouco mais delicada com a amiga. Não é porque são amigas que podem se esfolar. Isso inclusive desgasta. Qualquer relação. Ela bem que poderia ter escolhido melhor algumas palavras para dizer o que achava, afinal, era amiga da outra e queria o melhor para ela. Nem sempre se consegue isso dizendo a verdade nua e totalmente crua. A verdade não precisa ser moldada para ser dita, porém, às vezes, precisa de um toque de sensibilidade para não ferir o outro. A não ser, claro, quando o outro pede a ferida. Aí a responsabilidade realmente não deve ficar conosco, mesmo muitas vezes, com nosso remorso, ficando.

Mas aí entra a sinceridade.

Que diabo é isso nas suas mãos?

Cara, eu não sei ao certo, mas garanto que pode te machucar.

Deixa eu ver, deixa eu ver, joga aqui, joga!

Se você quer mesmo, prepare-se, pois pode te machucar, é pesado e você nunca agarrou um desses antes. Eu tenho de arremessá-lo no seu peito, portanto, por mais que doa, saiba que estou fazendo isso porque é necessário.

Beleza, manda aí, manda aí!

Toma.

Putz grila... urg... que é isso, velho?

Não tá vendo? É uma bola de boliche, pesadíssima, e se você não se cuidar, ela ainda vai te machucar muitas vezes!

Sinceridade é o ato de você dizer o que tem de ser dito sem, contudo, deixar de se preocupar em como o outro vai receber. Geralmente demora um pouco mais, é para quando se tem tempo ou muita preocupação com o outro. Pessoas sinceras são vistas como pessoas que de alguma maneira se preocupam com o outro. Pessoas francas preocupam-se apenas em informar o outro. Um preocupa-se com o receptor e com a mensagem, o outro, só com a mensagem.

Entretanto, apesar de o texto colocar a sinceridade como sendo a forma ideal de se dizer algo a alguém e a franqueza como segunda opção, há casos em que essa ordem se inverte. Há casos em que você necessita dizer algo para impressionar. Para que usar a sinceridade? Geralmente quando contamos histórias reais, gostamos de ser francos (e às vezes um pouco mentirosos, “quem conta um conto...”), pois isso confere mais interesse à história. Já se formos sinceros, se ficarmos escolhendo palavras demais, o outro perde, logo, o interesse pela história. Por isso é que cada uma tem sua função e hora exata para ser usada.