Boa leitura!
Da sinceridade e da franqueza
– Que diabo é isso na sua mão?
– Toma. (e joga o negócio praticamente no peito do outro)
– Putz grila... urg... que é isso, velho?
– Não tá vendo? Bem, se vira.
Esta situação é bastante comum no nosso dia-a-dia. Freqüentemente encontramo-nos com pessoas que têm como característica a franqueza. Franqueza é o ato de uma pessoa dizer para outra o que tem de ser dito, sem muito se preocupar com o como, com o processo. A franqueza prioriza os fins e não os finais e, por isso, não raro, ela machuca. Tentemos imaginar que objeto é esse que o amigo “entrega” ao outro. Pela expressão do que recebe, pode ser uma bola de boliche, ou uma jaca de 10k. Assemelha-se em peso, forma, textura e impacto quando jogado.
Na verdade, somos muito ingênuos quando pedimos às pessoas que sejam francas conosco. Mal sabemos que a franqueza é quase um estado de espírito. Quando alguém pede que sejamos francos, realmente temos que prevenir. Penso que isso seja até uma forma de preparar o indivíduo, fazer com que ela olhe bem para o “objeto” que será arremessado de nossas mãos em direção ao seu peito. Chamar a atenção não basta, é necessário realmente arremessar a bola de boliche no peito do outro.
– Seja franco: eu estou bonita?
– Mais ou menos...
– Como assim, “mais ou menos”?
– Uai, não tá nem tão bonita, nem tão feia.
– Rensga, pensei que você fosse um pouco mais sensível.
Temos aí um caso engraçado. A moça pede ao companheiro que seja franco com ela. Ele é, mas parece que não é num primeiro momento. Ao tirar a prova dos nove, ela aí o chama de grosso. Mas que é a franqueza se não um tipo de grosseria – algumas vezes – consentida pelo outro? A franqueza pede que encurtemos o assunto e digamos logo o contexto, sem rodeios.
Algumas pessoas acham que sinceridade e franqueza são a mesma coisa.
– Nossa, você ficou horrorosa nesse vestido listado. Tá parecendo uma baleia de tão gorda. Listas horizontais engordam, sabia não?
– Não pedi sua opinião...
– Ai... agora vai fazer biquinho? Ah, tenha dó.
Nesse caso aí, a primeira personagem poderia ter sido um pouco mais delicada com a amiga. Não é porque são amigas que podem se esfolar. Isso inclusive desgasta. Qualquer relação. Ela bem que poderia ter escolhido melhor algumas palavras para dizer o que achava, afinal, era amiga da outra e queria o melhor para ela. Nem sempre se consegue isso dizendo a verdade nua e totalmente crua. A verdade não precisa ser moldada para ser dita, porém, às vezes, precisa de um toque de sensibilidade para não ferir o outro. A não ser, claro, quando o outro pede a ferida. Aí a responsabilidade realmente não deve ficar conosco, mesmo muitas vezes, com nosso remorso, ficando.
Mas aí entra a sinceridade.
– Que diabo é isso nas suas mãos?
– Cara, eu não sei ao certo, mas garanto que pode te machucar.
– Deixa eu ver, deixa eu ver, joga aqui, joga!
– Se você quer mesmo, prepare-se, pois pode te machucar, é pesado e você nunca agarrou um desses antes. Eu tenho de arremessá-lo no seu peito, portanto, por mais que doa, saiba que estou fazendo isso porque é necessário.
– Beleza, manda aí, manda aí!
– Toma.
– Putz grila... urg... que é isso, velho?
– Não tá vendo? É uma bola de boliche, pesadíssima, e se você não se cuidar, ela ainda vai te machucar muitas vezes!
Sinceridade é o ato de você dizer o que tem de ser dito sem, contudo, deixar de se preocupar em como o outro vai receber. Geralmente demora um pouco mais, é para quando se tem tempo ou muita preocupação com o outro. Pessoas sinceras são vistas como pessoas que de alguma maneira se preocupam com o outro. Pessoas francas preocupam-se apenas em informar o outro. Um preocupa-se com o receptor e com a mensagem, o outro, só com a mensagem.
Entretanto, apesar de o texto colocar a sinceridade como sendo a forma ideal de se dizer algo a alguém e a franqueza como segunda opção, há casos em que essa ordem se inverte. Há casos em que você necessita dizer algo para impressionar. Para que usar a sinceridade? Geralmente quando contamos histórias reais, gostamos de ser francos (e às vezes um pouco mentirosos, “quem conta um conto...”), pois isso confere mais interesse à história. Já se formos sinceros, se ficarmos escolhendo palavras demais, o outro perde, logo, o interesse pela história. Por isso é que cada uma tem sua função e hora exata para ser usada.
2 comentários:
poxa, boa explicação, msm eu achando q as 2 no fim acabam da msm maneira. Se a pessoa pensar direito ou estiver com 'a pá virada', vc pode ser sincero o maximo possivel que ela vai achar um termo mal colocado na sua sinceridade.
gostei, vo usar isso com as gurias.
uhauhauhauh
^^
eu sempre achei que era a sinceridade que machucava as pessoas, agora vejo diferente... franqueza excessiva é que faz isso!
ponto pra ti, fessor!
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