quarta-feira, 28 de maio de 2008
coi$a

terça-feira, 27 de maio de 2008
lata
Todas as coisas boas da vida não têm preço. As ruins, têm. E a gente paga por isso. Um brinde à hipnose coletiva!
quinta-feira, 22 de maio de 2008
contoII
Pois bem, chega de conversinha. Vou publicar mais contos meus, já que deu IBOPE (instituto do batalhão de operações da polícia especial - não tem nada a ver com obrigar as pessoas a gostar dos meus contos, imagina...). Segue um que escrevi de um jeito experimental. Eu tinha o tema na cabeça, tinha a personagem, tinha o final. Mas para que ele ficasse verossímil, eu escrevi quase cinco laudas só sobre a personagem, para poder conhecê-la, aí sim eu escrevi o conto, que deu menos de quatro laudas. Louco né?
Cheira à falta de espírito
Para o grupo Nirvana
Sabia e sentia sua importância nos comentários que ouvia acerca de seus perfumes: “ganhar um campestre é um luxo”. Achava que fazia o bem quando promovia às pessoas o estado de graça por causa de um dos sentidos mais poéticos do nosso corpo, o olfato, ter sido afetado positivamente.
E era uma mulher só.
Mas não existe nenhuma relação disso com o fato de ela ser trabalhadora, viciada nos seus negócios e no bem-seguir de sua empresa. A cada ano ela ficava mais rica e, conseqüentemente por causa da fama, mais só. A solidão não afigurava-se-lhe como um mal. Ela lia muito sobre depressão e solidão e realmente não conseguia enxergar esse medo que as pessoas tinham da solidão. A morte parecia ser pior que a solidão. A falta que um companheiro fazia a ela era física, não espiritual. E o físico, como qualquer outra coisa, era fácil de comprar.
As poucas amigas se espantavam com sua administração da solitude. Achavam que ela era uma work-a-hollic perdida, sem volta, incurável, ia morrer numa mesa de escritório. Do escárnio, praga ou inveja, ela ria gostosamente com muito dinheiro no bolso, como nenhuma delas.
Num dia de estafa mental, algumas coisas não tinham saído como ela planejou, resolveu ir a Londres. Queria tomar um banho de loja, sua terapia mais eficaz. Tomou o avião. Viagem boa na classe executiva. Aviões lembravam-na robustez. Gostava de aviões. Chegando em Londres, hospedou-se no hotel de costume, Sir David. Lá ouviu falar de um leilão que ia acontecer à noite no salão de eventos do hotel. Não havia programado fazer compras num leilão, mas bem que leilões eram divertidos. “Comecemos, então, pelo leilão”, dizia a terapeuta Vitória à paciente Vitória.
No leilão houve disputa acirrada por umas velharias que não a agradavam. Não gostava muito de música, tão pouco de coleções, então que fitas com gravações raras dos Beatles, o último microfone
- Cinco milhões para a senhora do Versace vermelho...
Ela ainda não movia os lábios semi-abertos, os olhos pareciam duas bilocas de vidro. Ela estava, nesse momento, dando mais sentido à vida, estava comprando algo que a representava, algo que lhe preenchia as poucas lacunas que julgava ter na vida, um par de sandálias que deixaria qualquer um hirto de tanta beleza, tão mágico era seu efeito, tão brilhantes eram as pedras. As sandálias andavam de um lado a outro pelo tablado, nos pés de uma modelo que ela sequer se lembraria no outro dia da cor dos cabelos. Era sua agora. Era ela, então.
De volta ao Brasil, sentia-se renovada, aliviada, numa espécie de gozo muito próprio de quem compra bem. Esta era uma maneira de os ricos aliviarem suas tensões – comprarem bem – que deixava qualquer pessoa revoltada. Mas cada um tem sua maneira de relaxar, cada um sabe o que é melhor pra si quando a fadiga dá seus primeiros sinais.
E meses depois, sentindo a mesma fadiga, a estafa de fazer negócios no Brasil, Vitória decidiu ir à França com o mesmo objetivo, fazer compras, renovar o que via no espelho. Já tinha muitas roupas caras, muita coisa bonita e de marcas que estavam na boca de dez entre dez ricaços como ela. Na França, pressentindo um déjà vu, participou de outro leilão nas mesmas circunstâncias, ou seja, não fora lá pra participar de leilões, mas no salão de eventos do hotel... Então viu lá um vestido pérola, com bordados estilizados e modernos, que lhe custou um milhão e meio de euros. Batia o martelo com os mesmos olhos enaltecidos, sem precedentes, incorruptíveis, desvairados, decididos. O vestido era de boa marca, tinha um corte fabuloso, mas não era de ouro, como se esperava pelo preço. É que esse povo estilista se engaja de vez em quando em causas sociais e doa parte do que ganha às tais causas.
Isso pouco interessava Vitória. Quando entrevistada na saída do leilão, ela inclusive cometeu a gafe de trocar os nomes das instituições beneficiadas. Na outra semana, tinha a foto estampada em todas as revistas semanais, em todos os tablóides internacionais que a reconheciam como “musa dos perfumes”, sendo espicaçada pelo mal-entendido. Pouco ela ligava pra isso, o mais importante, o vestido que ostentava em seu guarda-roupas, estava seguro e lindo.
No evento de comemoração dos quinze anos da Campestre, Vitória decidiu que ia abalar todas as estruturas, nenhuma mulher estaria tão bonita, seria tão desejada quanto ela. Estava decidido que aquele dia seria o dela de usar a afronta bela, sê-la. Parecia mesmo que seu objetivo era a ostentação pura e simples. Os conhecidos e amigos mais próximos falavam que ela estava perdendo a humanidade. Sabendo disso por um empregado, ela perguntou a ele, muito seca e francamente: “O que é humanidade?”. Este não conseguiu esboçar nada, sua voz travou-lhe as pregas vocais, talvez por medo da pergunta, talvez por medo da resposta.
E então, quase uma hora atrasada, no silêncio rebarbativo do salão de sua mansão, todos já esperavam-na sabendo de seus esbanjes e caprichos, aparecia Vitória, enfiada no vestido perolado que lhe revelava as sinuosas curvas do corpo magro, as pernas lisas, contornadas como por um artista renascentista. Tinha na cabeça uma tiara de ouro que ora lhe davam o aspecto de uma rainha moderna, ora de uma deusa olímpica. E os pés, os pequenos pés, desejos íntimos de qualquer podólatra, metidos nas sandálias crivadas de rubis e diamantes. Surgia irreal, um holograma. Seu orgulho de si baixava os olhos “cheios de humanidade” ao seu redor, nada rebrilhava mais que seus olhos, satisfeitos pela magnitude e classe que impunha aos presentes, todos, sem exceção, absortos.
- Você está linda, Vitória!
- Magnífica Vitória!
- Nossa, amiga, você está deslumbrante!
E homens e mulheres e garçons e diplomatas e embaixatrizes e artistas, todos curvavam-se diante do vestido e do par de sandálias que se dirigia a eles. A festa tivera início com aquela chegada. Música agora se ouvia, de boa qualidade.
Tão logo ela passava por entre as pessoas, carne e osso, sangue e vísceras começavam a desatomizar, começavam a desintegrar-se dentro da indumentária. Todos ainda mantinham o sorriso assustado e encantado pela alteza perfumada e também ela mantinha e devolvia um mesmo sorriso. Mas todas as vezes que olhava para o braço em que o bracelete de ouro puro vacilava, via-o branco, mais branco, passava pelos espelhos dos aparadores e parecia que enxergava o que tinha atrás de si, pessoas, móveis, coisas, estava desmaterializando-se transcendentalmente da carne, do que é humano. Até que as roupas, sandálias e todos os apetrechos ficaram estacionados num canto do salão, as pessoas riam, se divertiam, bebiam champanhe. Nirvana! Vitória desaparecera.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
domínios
Domínios mais azarados da net
O site thesun.co.uk fez uma pesquisa e descobriu os nomes de domínio mais azarados da Internet. Os nomes podem ser lidos de mais de uma maneira, e ficam com um sentido nem um pouco desejado. Confira quais são:1. www.whorepresents.com
O que é o site: Um banco de dados para agências de ricos e famosos.
Sentindo verdadeiro: Who represents - Quem representa
Sentido azarado: Whore presents - Prostituta apresenta
2. www.expertsexchange.com
O que é o site: Um fórum onde programadores trocam dicas.
Sentindo verdadeiro: Experts Exchange - Trocas entre experts
Sentido azarado: Expert Sex Change - Troca de sexo expert
3. www.penisland.net
O que é o site: Uma empresa que faz canetas sob encomenda.
Sentindo verdadeiro: Pen Island - Ilha da caneta
Sentido azarado: Penis land - Terra do pênis
4. www.therapistfinder.com
O que é o site: Site de busca de terapeutas.
Sentindo verdadeiro: Therapist finder - Busca terapeutas
Sentido azarado: The rapist finder - Busca de estupradores
5. www.molestationnursery.com
O que é o site: Uma creche no sul do País de Gales.
Sentindo verdadeiro: Mole Station Nursery - Creche de Mole Station
Sentido azarado: Molestation nursery - Creche de molestamento
6. www.powergenitalia.com
O que é o site: Empresa de energia elétrica em Milão, na Itália.
Sentindo verdadeiro: Power-Gen Italia
Sentido azarado: Power genitalia - Genitália poderosa
Copiado do blog nada a dizer.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
conto
Vamos ver se agrado com contos também. Este eu escrevi faz uns anos. Era pra entrar no concurso do SESI, no qual já fui premiado em segundo lugar. Mas aí, com este, eu não ganhei. Fiquei meio puto, porque acho o conto legal. Mas nem sempre eu consigo ser melhor do que eu. kkkk, desculpem a modéstia, às vezes eu não resisto. Espero que gostem. E comentem, caramba! Vou até colocar uma figurinha qualquer pra você não desistir da leitura. Qualquer não, é do Amílcar de Castro, da série que ilustrou os livros do Kafka pela Cia. das Letras no Brasil.
Sem(pre) troco
E ele tinha a funcionária Elaine, recém-contratada pra “expansão” da mercearia, que agora tinha o status de supermercado. Elaine não era boa pessoa, isso se podia dizer dela sem medo de errar. Nem mesmo suas angústias justificavam seu gênio torto. Parecia estar sempre em estado de vingança. Parecia sempre alimentar esse ímpeto que lhe apertava a vagina toda vez que fazia uma ruindade. Eis que sua cara era mesmo medonha. Não era feia, isto não era. Mas tinha o cenho franzido sempre. E quando ria, ainda os olhos não riam junto: os cortes no entressobrancelhas, vincos fundos e que ninguém os já vira diferentes.
Mas era discreta. Suas maldades eram pequenas, no entanto suficientes pras pessoas perceberem que não deviam pisar o rabo dela. Bote pronto cem porcento. Toda hora e o batom grosso, sobrando bolinhas nos lábios finos, denunciava um ataque. Cães raivosos espumam a boca. Elaine fechava a boca e o batom ficava mais vermelho. Nas quartas-feiras pela manhã a loja ficava das mais vazias, só mesmo meninos comprando balas e chicletes e donas de casa velhas algum tempero.
Nos dias de tédio, ela se lembrava o tempo inteiro de sua existência.
E amarrava bem a boca das sacolas com as compras, dando nós cegos que inutilizavam as sacolas para o depois. Tinha uma maneira empacada de fingir-se surda quando as senhoras pediam-lhe para não fechar as sacolas. Talvez ignorasse porque não fechava as bocas das sacolas, mas as trancafiava. Só na faca ou na tesoura pra abrir depois.
E devolvia trocos em miúdos o quanto podia. Era sempre a mais bem disposta a ir trocar dinheiro no banco três lojas ao lado. Saía e João, o entregador, sempre comentava “essa Elaine é moça prestativa mesmo, todo dia vai cinco, seis vezes ao banco, enfrenta o mau humor dele, às vezes mesmo pega fila, e ainda volta com tudo trocadinho”; mas não era disposição para a loja, para com as colegas, era a sua disposição em fazer as maldadezitas. Dona Cora ia ao supermercado ao menos duas vezes por semana e sempre dizia a Elaine – com quem mantinha um tipo de luta psicológica – que queria o dinheiro graúdo. Ela pedia, Elaine entregava moedas, não fazia questão, sentia a mulher se magoando com a falta de tato dela e isso quase lhe fazia sorrir.
Num dia deixou um alfinete no teclado da míope do caixa ao lado sem ninguém perceber. A coitada furou o dedo fundo e ficava digitando com a mão esquerda. Aquele sofrimento de ter de adaptar-se fazia Elaine dar piruetas no peito, por dentro, de alegria.
Apesar da lei de que tudo o que aqui se faz, aqui se paga realmente se aplicar em seu caso, ela não se deixava abater por nada. Prosseguia na sua busca incessante. E sua busca consistia num ato de amor irrefutável, consistente pela própria natureza – insólita e coerentemente bem-feita – em rasgar a película placentária que a envolvia desde que nascera de novo, resolvida por psicólogo, ainda de quando mantinha relações com seu pai aos oito anos de idade. É claro que isso não justifica suas maldades, que maldade não é senão um espectro das coisas aparentemente boas que nos circundam. Só a maldade é verdadeira, até mesmo a mentira é verdadeira. Mas Elaine não mentia, não que isso não pudesse fazer, isso sabia fazer bem, mas que sua memória traía-a de quando em vezes e então descobriam-na. Era má e insuportava ser desmascarada.
Suas intimidades eram obscuras a todo mundo, ninguém sabia alguma coisa dela. Ela tergiversava, tergiversava quando perguntavam onde ela morava ou se tinha namorado ou se estudava ou se gostava daquela música. Ela escapulia e muitas vezes o banheiro foi palco de seus gritos ocos e surdos. Quando arrancava os grossos pelos das ventas, tão miúdas e tão alinhadas que quem é que iria notar que lá pelos havia? ou quando seu tesão lhe afoitava a mente e ela se masturbava pensando naqueles mais vis, mais feios, mais toscos ao seu redor. Tico, um empacotador, era negro, de barriga grande e nenhum pelo, tão tímido que era feio. E ninguém ligava para a presença de Tico lá. Nem mesmo Elaine. Só quando se masturbava pensando naquele barrigão nela. E quantas não foram as vezes que ela se acabou dentro do banheiro e em um minuto se recompôs, despertando nenhuma atenção dos outros...
Elaine era fogo, dragão moreno mal intencionado.
Mas eis que num dia quarta-feira-trivial, em que todos estão presentes na loja, surge um diabo que ela tratou como um qualquer, como era tratado quem ia ao supermercado na quarta, e ele, aparentando ser mecânico pela cor da roupa, já sabia de Elaine. Na cabeça dela, ele era realmente um estranho. Pois que ele comprou uma cera pra carro e um cheirinho de colocar no console e, assim que ela passou os produtos pela leitora ótica, ele pediu franco, nos olhos dela, que não amarrasse a boca das sacolas. Como de costume ela procedia, chegou a fechar a primeira sacola, olhando pra baixo, já no seu lugar-comum de superar ordens alheias, quando na segunda sacola passou a primeira alça pela outra, ele segurou seu braço com força, fixo ainda nos olhos, e pediu soletrando pra que ela não fechasse a boca da sacola com nó. Sim? Ela parou, olhou uns instantes a cara fechada do rapaz, continuou sua alçada e, por fim, deu um nó ceguíssimo na sacola, com agora não só o cenho mas com o queixo também franzido.
Ele soltou seu braço e que se de olhos fechados ela estivesse, ele certamente estaria se entregando, mas seus olhos não estavam fechados e o que ele fez foi levar a mão à nuca de Elaine, surpreendendo-a com um esfrega-boca, que aquilo não se pode chamar beijo, cinematográfico. As colegas levavam a mão à boca, a míope tirou os binóculos e esfregou os olhos descrente, o João sentiu ciúme, o Tico quis ir ao banheiro se masturbar e seu Ceulomar achou poético, coisa de filme, bonitinho, mas provavelmente iria despedi-la pela má conduta para com o cliente, por isso provocara o que ocorria, ele tinha visto tudo.
Fim do ato, desgrudados: ela arregalou os olhos, ele pegou suas sacolas com as bocas amarradas, ela acompanhou seus movimentos, ele se foi. Seu Ceulomar foi se aproximando dela, já disposto a dar o esbregue e mesmo antes dele começar a falar, o dedo indicador ainda em riste, seus passos aproximando-se do caixa dela – e o estranho se indo – ela saiu de seu gabinete bruscamente em direção à rua. Seus olhos ainda acompanhavam os passos sumidos do estranho mecânico. O homem sumira e ela correra como pôde atrás dele. Os funcionários não puderam acompanhar o desfecho da história, se ela iria se casar com ele ou matá-lo, pois que trabalhavam. Mas ela nunca mais voltou ao supermercado, quer por vergonha, quer por vitória, quer por medo de enfrentar seu fracasso. Justo Elaine, que nunca tinha perdido de um cliente.
E quem é que espera a vitória? Não é de fios que se constrói a teia, de riscos, a vida, de lodo, o verde, de sangue, o vermelho, de vis-a-vis?
Elaine era muito viva.
sábado, 3 de maio de 2008
concretoII

Poema de Augusto de Campos, o maior concretista brasileiro de todos os tempos. Síntese de todos os inter-entre-sub-super-sobretextos que existem. Maravilhoso.