terça-feira, 15 de junho de 2010

vuvuzelando

Toda Copa é igual. Ou pelo menos começa igual. A gente torce pelo Brasil, se enche de esperança, bate no peito a mão no escudo da camisa canarinho, chora, grita, bebe, xinga, reza, canta o hino (ou parte dele). E, quando o Brasil perde, a gente fica praguejando um mês sobre o maldito técnico que não escalou aquela seleção (mistura de Corinthians com Santos), sobre os jogadores terem feito corpo mole, sobre essa copa ter sido “arranjada” (leia-se vendida), sobre esse país não ir pra frente, sobre tudo.
Embebedamo-nos de um falso patriotismo que só atinge o país nessa época e, minimamente, nas Olimpíadas. Pelo menos a gente gosta de esporte. Mas o que mais me deixa grilado nem são aquelas malditas vuvuzelas vuvuzelando durante todos os jogos e durante todo o jogo. Nem é da alegria excessiva do povo sul africano outrora vítima do apartheid, hoje vítima dos resquícios dessa política. O que mais me deixa inconformado é de a gente só acreditar na gente, representada por aquele bando de mercenários jogadores “estrangeiros” que não pisam aqui pra quase nada, nessa época festiva. O país para (e nem acho que deveria ser diferente) e assiste confiante de que dessa vez, mais uma vez, o Brasil vai pra frente. Le(ve)do (de cerveja) engano.
Quando ganhamos em 1994 ou mais recentemente em 2002, o que nos ocorreu depois foi a ressaca “temos-o-caneco-e-agora-o-que-a-gente-faz?”. Sabe cachorro que cai da mudança? É o povo depois da Copa. Ganhando ou perdendo, o brasileiro não aprenderá a valorizar o sentimento de amar o país sobre todas as coisas ou em detrimento dos outros, como já ocorre com a Argentina. Que avalanche de propagandas engraçadinhas insuflando a xenofobia é essa que tomou conta da tevê? Já não bastam as piadinhas sobre argentinos que circulam pela internet agora temos de odiá-los? Ou, no mínimo, zombar deles como se fossem seres inferiores a nós? Legal isso vindo de um povo “patriota”, porque é tudo o que um continente precisa pra crescer frente ao mundo lá fora: desunião.
A gente precisa aprender a confiar no nosso potencial pessoal, não por causa do país ou da nossa cultura tão festejada pelos gringos. Precisamos é olhar ao redor e dar as mãos, não como nação, mas como humanos. A gente pertence à mesma nação: a humanidade.
Gosto de futebol, não nego. Mas mais do que torcer pelo meu país, prefiro torcer pela festa como uma grande confraternização que une bilhares de pessoas à frente da tevê e pode servir como palco para divulgar as diferenças entre os povos como uma qualidade a ser preservada para os tempos pós-competição, não como motivo para desunião. 

Um comentário:

Paula H. disse...

O que mais me incomoda no brasileiro é o patriotismo exarcebado presente SÓ na copa. Em época de eleição, ninguém faz questão de exercer cidadania, a nossa bandeira nacional cai no esquecimento, aguardando ser retirada do armário na copa seguinte.

Já estava com saudades dos seus textos ;)