sábado, 19 de junho de 2010

não era mais um josé

Eu não vou dizer nada de novo aqui. Não haverá surpresas no meu texto de despedida a Saramago. Aliás, eu até gostaria. Gostaria de levar meus leitores a um mundo imaginado em uma jangada gigante de pedra, onde lá fosse casa dessa gente toda. Ou ao universo de um professor que encontra um outro de si na rua. E não eram clones. Queria despertar-me da caverna platônica onde me puseram quando vim para este mundo e ter a força de acordar aos demais, ainda que me chamem louco. Queria transportar quem me lê até uma ilha desconhecida, e desse, para quem se arriscasse a ir lá, o prazer utópico de um mundo humano. Acharia muito bom ser capaz de contar a história de Jesus numa visão ateia e revolucionária sem soar anticristo. Conduzir os outros pela cegueira branca, rasgando o caminho por ver tudo a frente de muita gente boa. Mas eu não posso. E a morte desse escritor tão pungente, tão tenaz só reforça o quanto ainda tenho de ler para crescer um cadinho de barro intelectualmente.
Saramago me transportou para esses lugares e situações todas. Me fez acreditar nos seus personagens. Recriou meu modo de entender a literatura. Eu faço – agora – reverências a você, mestre literário; com certeza o mundo fica mais burro agora, como bem disse o Fernando Meirelles.
*
“Saberíamos muito mais das complexidades da vida se nos aplicássemos a estudar com afinco as suas contradições em vez de perdermos tanto tempo com as identidades e as coerências, que essas têm obrigação de explicar-se por si mesmas.”
A caverna, p. 26. José Saramago


Um comentário:

Jess disse...

eu ainda não acredito que não vou ler novos livros de Saramago.

=/