domingo, 2 de outubro de 2011

referências

Referências são os pontos para os quais olhamos e para onde queremos ir. Referências são as bases nas quais nos sustentamos para seguir em frente. Referências nos estimulam, nos incitam, nos fazem refletir, querer alcançar pontos inalcançáveis. Referências nos emocionam, mas sobretudo referências nos tornam seres vivos e pensantes. Uma pessoa sem referências é uma pessoa ignóbil.
Dia 28 de setembro, pouco antes de dormir, minha timeline do Twitter foi invadida por uma notícia que eu não quis aceitar e pensei tratar-se de trote: o vocalista do Cólera, Redson, morreu de uma parada cardiorrespiratória. Antes de dormir, dei a notícia à minha mulher, adormeci às lágrimas incontidas.
O outro dia foi uma merda. Dei aula sem graça. Perguntavam do Rock In Rio, eu contava brevemente como tinha sido, voltava pra matéria tentando esquecer que o rock faz parte da minha vida.
Estive um dia de luto. Um dia. Na sexta eu já estava ok, porque o Redson não morreu de verdade. Eu o vejo nos meus álbuns do Cólera, nas letras dele, nas músicas, nas fotos. Vejo-o nas minhas letras, nas minhas músicas, nas escolhas que fiz pra vida. Ele foi mais importante pra mim do que muitos parentes próximos. Se hoje penso que pode haver um amanhã melhor pras gerações que vêm, é porque na minha adolescência eu conheci o Cólera e as letras e músicas do Redson. 
"Quanto eu passo as noites nas esquinas/ esperando um ônibus que nunca vem/ vejo mulheres prostituídas, tento imaginar por quê/ vejo moleques, rasgados, perdidos, não têm um amigo/ mas por quê?/ Dê uma olhada pra essas vidas/ onde estão os direitos de viver?/ Eu me lembro, falam na declaração/ que nascemos livres, livres, por iguais/ mas não entendo se escolhemos/ ou se alguém escolheu por nós/ não está certo, alguns estão ricos/ outros não têm nem um amigo/ Dê uma olhada pra essas vidas/ onde estão os direitos de viver?"
Depois de ouvir/ler essa música aos meus 16, 17 anos, eu nunca mais fui o mesmo. A partir dali, eu estava num processo irreversível de transformação para buscar um mundo melhor e de lá pra cá, pouca coisa mudou. Fiquei mais embrutecido, menos sensível, mas ainda acreditando. Perdi a inocência, mas não o otimismo. 
Sangue Seco com Redson ao centro em 2007, em Palmas
Eu perdi um ídolo, mas suas ideias nunca morrerão em mim ou nos outros moleques de 16, 17 anos que estão conhecendo o Cólera agora e transformando suas vidas concretamente. O discurso soa religioso, eu sei. Mas a indignação e o inconformismo não fazem parte de adorações, mas de detestações. O mundo punk compartilha isso, independente da corrente ideológica. Todo punk é um indignado. Os que têm o Cólera como referência, além de indignados são otimistas. 
No sábado, 1º, teve um show histórico em Goiânia. Olho Seco, banda seminal do punk junto ao Cólera, tocou aqui na cidade, voltando às atividades depois de quase uma década parado. O Ímpeto, uma de minhas bandas, abriu mão de tocar as próprias músicas no show de abertura desse evento e tocou apenas Cólera, do começo ao fim. Foi nosso jeito de homenagear aquele que nos influenciou. Se tocamos alguma coisa, muito se deve ao Redson e ao Cólera. As pessoas gostaram, choraram, cantaram conosco e fizeram um espetáculo lindo. Aquele espírito é o que temos de carregar conosco no dia a dia pra enfrentar todas as pedras que jogam na nossa cara toda hora. Pra aguentar a merda do mundo, preciso fazer algo que vá contra ela, preciso acreditar que ser adolescente não é uma fase, mas uma escolha de vida. "Eles dizem que você é doente, e que isso é fase de adolescente mas não! Não vá se entregar!", gritava o Redson no melhor disco do Cólera: Pela Paz Em Todo o Mundo. Nunca ouviu? Baixe aqui.
Eu hoje estou feliz. Feliz porque sei que o Redson cumpriu seu papel aqui. Foi embora cedo, "os bons morrem jovens", cantava Renato Russo mais uma verdade. Morreu cedo, mas não deixou nada a dever a ninguém. Só a crescerem cada vez mais. FORTE E GRANDE É VOCÊ!!!

Um comentário:

Carolina Carmela disse...

"É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo de mais."

Ah Guga... lindo o que você escreveu, linda referência que tens e é uma pena o ocorrido.
Me entristeci quando vi o Bacural triste e por que você também ficaria triste. Eis que o Redson estará sempre vivo e não será só nas músicas mas em adolescentes como você e isso importa muito. Espero que estejas bem, ou ao menos que esteja melhor.
Próxima terça dou um suco gelado de pêssego pra ti.
Fica Bem Guga.