domingo, 24 de outubro de 2010

chapeuzinho vermelho

     Certa vez, uma garota viciada em crack, conhecida por andar sempre com um boné vermelho do MST, sem que fizesse parte do movimento brasileiro pelo fim do latifúndio, decidiu que era hora de visitar sua avó. Quem sabe ela não conseguisse dar a manta na aposentadoria da velha pra comprar mais umas pedrinhas. 
     Eis que, atravessando o bosque pra ver se encontrava alguns noias companheiros de cachimbo, se depara com um lobo de pelagem preta que rangia os dentes e também lambia os beiços. Uma fera. A garota do boné vermelho, ou chapeuzinho como alguém vai chamá-la algum dia, estancou. O lobo baixou as calças, mostrou a que vinha, ela levantou a saia até mostrar quase a bunda, e quando o bicho ia pra cima dela, percebeu que com as calças arriadas não conseguia correr tão rápido quanto ela com a saia lá em cima. E ela correu, correu, até o lobo perdê-la de vista num entroncamento de árvores muito grandes. 
      Ele continuou na trilha em que ela estava, quem sabe não encontrasse outra gostosinha em condições. Daí que a nossa querida viciada em pedra está detrás de um tronco de árvore com um paralelepípedo na mão. Antes que ele pudesse levantar a mão pra se defender, ela desce o pedregulho na cabeça do lobo, gritando "toma, filha da puta, qué estrupá? então vai se ferrá!". O lobo caiu desfalecido com a língua pra fora da boca e a braguilha da calça ainda aberta. Ela pisou o corpo dele, passando por cima. Revistou seus bolsos, achou três reais e pensou "vou pegar um baú pra chegar mais rápido na casa da minha velha".
     Assim ela fez. No ônibus, todos a olhavam com desdém, medo, nojo. Ela fingia que o dia estava bonito e que a fissura não dominava seu corpo arrebentado. O ônibus deu tanta volta, que ela quase saltou dele pra ir a pé mesmo, tanto ponto e gente nesses horários de pico.
Horas depois, ela chega a casa da avó. Ela gira a maçaneta, a vó não tinha hábito de trancar a porta, e entra sorrateiramente. Dá uma espiada na sala, na cozinha, não vê ninguém. Quando se achega até o quarto, vê uma figura preta sobre sua avó, os dois se encontram no que a gíria dos pedreiros diz "batendo coxas". Enquanto a vó delira de prazer, o lobo - agora está bem evidente que se ela tivesse vindo a pé chegava bem mais rápido, o desgraçado mesmo ela o tendo deixado desacordado conseguiu chegar antes que ela - se esforça pra satisfazer a anciã. Nossa Chapeuzinho se esconde detrás da máquina de costura do quarto e vasculha dentro da bolsa se acha algum níquel. Nada, não há um centavo dentro da bolsa da velha. Quando ela pensa em levantar, o lobo termina o serviço, a vó está com um sorriso de orelha a orelha. O lobo se veste, dá um beijo na testa da mulher, que diz: "o dinheiro está debaixo do forro da geladeira". "Desgraçado", pensa Chapéu, "come minha vó e ainda leva o dinheiro dela!"
     Levanta-se num pulo, a velha dá um grito de vergonha, pois está nua e enrugada, primeiro por estar sem roupa, segundo por estar velha. A neta faz "sshhhh!" com o dedo na boca. O lobo pergunta da cozinha: 
- Que foi, Marineide? 
- Nada, to só abrindo a boca de tédio...
- Tédio? Mas foi tão ruim assim?
- Imagina, eu estava esperando há anos por uma dessas!
- Aquela sua neta precisa de mais bons modos. Ta mexendo com crack e vai saber mais o quê!
- O quê? Crack? - e diz isso olhando firmemente pra neta, que está de pé procurando algo pra acertar o lobo. 
     Ao que ele retorna de súbito ao quarto, depara-se com a menina segurando a televisão 14" da avó, e diz: 
- Vai vender ou jogar na minha cabeça de novo, ô problemática?
     E Chapéu ia mandar a televisão na cara do lobo, quando sua vó dá-lhe uma bicuda na bunda e essa deixa o televisor cair sobre si quando leva as mãos ao cu. "Porra, vó, o cara te estrupa e você é que vem me batê!?" A mulher pede ao lobo pra segurar a garota, a vó vai até a despensa, busca de lá uma corda grossa de sisal e amarra no pé da neta. Depois a leva ao quintal e a amarra num pé de manga. "Vai ficar aí até passar a vontade de fumar essa merda", diz a mulher irresoluta quanto ao tratamento com a neta. 
- Porra, vó, não vai nem um cigarrinho do capeta pra aliviar?
- Negativo. Se quiser fumar uma manga, pode pegar do pé. Neta minha pode até ser puta, mas crackeira queima o filme demais da família. E vai metida na cinta liga ouvir Raul Seixas com o lobo no som da sala.

3 comentários:

Márcia Dayane disse...

Gostei muito. :)
Tá de parabéns!

RAdS disse...

O lobo era estuprador ou não?

Thalita Bastos disse...

besteirol 100%
kkkkkkkk