A preguiça não é um pecado. Não
são os homens a cometê-la; é ela a acometê-los. A inveja não é um pecado; é a meta
ao quadrado. Como se chama o que é mais que pecado, duplamente qualificado? Não
é a ira senão a manifestação sincera dos maus humores? Não é engoli-los a seco
o verdadeiro pecado? A avareza não é pecado; “é a mãe da economia”, diria o
diabo do Machado. A luxúria não é pecado; pecado é deixar as maçãs apodrecerem
sem ter delas se deliciado; aliás, os melões, as melancias, as bananas, as
uvas, as peras, os mamões, as mangas e até os estranhos kiwis também não
chupados. Cobiça é um querer e a reza é de que ele é poder. E se reza, então é
verdade e esta é boa; portanto não é pecado. E, finalmente, gula não é pecado;
senão a realização de um desejo de se manter bem nutrido sempre. Se outras
pessoas passam fome, é porque se abnegaram do direito ao que se convencionou
chamar pecado e que aqui o chamamos benefício. Quem não come para evitar a gula
compadece-se da inanição, que é doença e, portanto, deveria ser chamada de
verdadeiro pecado.
Pecado é não ficar pelado.
2 comentários:
rsrs, textos sempre loucos e reflexivos, com muita dose de liberdade. Cara como eu gosto disso!
a d o r e i
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