segunda-feira, 7 de novembro de 2011

a (flor da) pele que habito

      "Almodóvar é sempre um clássico" "Adoro as cores do Almodóvar" "Nós nunca sabemos no que vai dar" "Prefiro os antigos dele" são constantes nos burburinhos dos intelectuais e dos nem-tanto que frequentam o cinema e conferem as obras do diretor espanhol. Devo dizer que, apesar de a introdução dar a entender que não faço coro a esse discurso, na verdade estou no grupo dos nem-tanto. Então os clichês nas falas dos outros sobre o diretor eu costumo ecoar.
Elena Anaya numa cena linda do filme
      Felizmente, uma obra dele é sempre uma conversa franca sobre tabus. Em tempos de piada de mal gosto afetando as pessoas como crimes hediondos, esses mesmos crimes na tela de um diretor hypado como ele nunca são demais, afinal, ele os "problematiza", os discute, os expõem na mesma medida em que os transforma em assombradas verdades, escondidas nas brutalidades meramente humanas. 
       A pele que habito é um filme diferente de tudo o que já vi. Inclusive eu colocaria a obra na seção de drama na minha locadora (caso eu tivesse uma), mas não sem hesitar em pô-la junto aos thrillers. Como thriller deixa a desejar. Como drama, no entanto, não mata a gente como em Tudo sobre minha mãe ou Fale com ela. Mas dá pra arrancar uns suspiros de dó. Dó de tudo, inclusive. As de sexo, por outro lado, são quentes, intensas, sem ser descritivas. O diretor sempre retratou o sexo com devida sutileza. Mesmo os estupros nunca são o clichê. Basta lembramos de Kika e a hilária cena em que é violada. Quem é que pode rir de um estupro? Almodóvar provoca.
       Vi pouco as cores que geralmente inundam a tela como se fosse mesmo uma obra plástica. Os enquadramentos continuam lindos, mas pela atmosfera mais sombria do filme, as cores estão mais opacas (porém não menos bonitas). 
         Os atores nas mãos de Almodóvar comem em sua mão. Obedecem ao diretor como o filho que tem medo do pai. Inclusive achei o Banderas menos expressivo que de costume. Já o vi mais vivo.
       Agora, a história tem um tom de humor negro inevitável. Irrepreensível. Confesso que não me diverti com a desgraça dos personagens, mas que havia momentos de desconfortável vontade de rir, ah, isso houve em vários momentos. Não vou bancar o spoiler aqui e ficar adiantando os fatos. Vão ver o filme, ta no Bougainville/Lumière. 

Nota: quero retomar minha cinecultura. Fiquei anos indo ao cinema vez ou outra. Estou no clima de fazer com o cinema o que fiz com a literatura. Faça o mesmo. Internet é bom, mas não é o único lugar que deve nos divertir. VÁ AO CINEMA!