domingo, 14 de agosto de 2011

resenhas preguiçosas

Sei que estou sumido, meus cinco leitores. Sei que vocês querem tirar o Tessitura dos seus favoritos e enviá-lo aos bloqueados. Mas tenham dó desse pobre escritor sem ideias e com preguiça extrema. Assunto não me falta. Falta disposição para escrever sobre tudo o que tenho visto. E tempo também, sempre ele.
Depois de "Histórias extraordinárias", do Poe, li "Pequenas criaturas", do Rubem Fonseca, "Mundos invisíveis", do Marcelo Gleiser, "Demian", do Hermann Hesse, "A grande arte", do Rubem Fonseca novamente (to viciado nesse cara) e comecei um romance polonês de uma escritora chamada Dorota Maslowska que é bem no estilo beat, anos 70 e tal. Mas a história é desses tempos, os personagens têm celulares, rs. To desbravando as primeiras páginas, nem tenho opinião ainda sobre o que estou lendo.
O certo é que não resenhei nenhum desses livros que li de março pra cá e temo o tempo passar e eu perder a referência. Afinal, uma das razões de eu ter querido resenhar o que leio é na tentativa de eternizar minhas impressões sobre o que li. Mesmo sabendo que quando eu reler algumas dessas obras minha cabeça será outra, gostaria de saber o que eu pensava na época.
Então, pra eu não perder o fio da meada e nem vocês me abandonarem definitivamente, resolvi fazer comentários breves sobre essas obras. Estou com muita coisa na cabeça. Queria escrever um romance do Néverton, o personagem desse último texto que escrevi em junho ainda. Mas não senti uma resposta positiva dos meus leitores. E eu não quero escrever mais só pra mim, como já faço com as resenhas. Não quero confetes, queria uma resposta. Qualquer uma. Ando carente de estímulos. Ando preguiçoso. Preciso escrever. 
Vamo lá.
Pequenas criaturas - Rubem Fonseca produziu uma sequência de contos com personagens com conflitos típicos de crônica. Pequenas desgraças cotidianas seria um bom nome para a obra também. Mas é claro que "Pequenas criaturas" é muito superior, pois resume em duas palavras a verve de todos os personagens do livro. Alguns parecem mais significativos, como o garçom assassino do conto "Ganhar o jogo", outros, porém, como o velhote banguela e cadeirante do primeiro conto é de dar dó. Você ri da desgraça alheia porque se coloca no lugar dele e pensa, que merda de vida. E nós somos os brasileiros, esses miseráveis que riem da desgraça do outro, mas riem da própria desgraça também. Aliás, antes que outros riam; orgulhamo-nos. O livro é ótimo e faria uma excelente resenha dele se não fosse essa preguiça.
Mundos invisíveis - Marcelo Gleiser. Eu já gostava dos artigos do Gleiser na Folha, mas nunca tinha criado coragem de ler um livro seu. Medo de passar o que passei lendo "O universo na casca de noz", ou seja, incompreensão de 70% da obra do Hawking. Mas eis que me surpreendo com uma obra acessível, linda, fácil de ler e cronológica. Nada mais prático. Indicado pra curiosos em ciências exatas como eu. Da alquimia à física de partículas (aliás, acho que isso é o subtítulo do livro), ele faz um resumão do que aconteceu nos fatos e nos bastidores dos eventos históricos mais relevantes da ciência que tenta explicar do que tudo é feito. Lindo, vale muito a pena ler. Empolguei tanto que até comprei o último que ele lançou, "Criação imperfeita", uma bicuda na tão perseguida "teoria de tudo". Não li ainda, mas ta na fila.
Demian - Hermann Hesse é um autor que faz parte da minha vida desde que li Sidarta a primeira vez. Na verdade, desde que li que Clarice Lispector se impressionou com "O lobo da estepe" de tal modo que quase pirou. E isso foi antes de eu ler "Sidarta" (confira resenha desta obra láááá em baixo). Para muitos, as três obras mais importantes do escritor alemão são as citadas aqui. São as únicas coisas que li dele. Tem uma máxima na literatura de que os grandes escritores estão sempre tentando contar sua história nos seus personagens e enredos. Hesse não foge à regra e eu o vejo em seus principais personagens. Para que nunca o leu, a ordem que sugiro é "Demian", "Sidarta" e "O lobo da estepe". Pois bem, Demian não é o personagem principal, ao contrário das outras duas obras. Um personagem, Sinclair, é que conta a história e se refere a Demian diversas vezes. Uma obra intrigante, pois os personagens nada têm de comum. Questionadores, inteligentes e complexos, eles adotam as mais diversas posturas e os mais inusitados fatos permeiam toda a narrativa. Mas já adianto, é do tipo que devassa nossa vida, pois nos vemos muitas vezes nas mesmas desgraças em que se encontram os personagens.
A grande arte - Rubem Fonseca. Ando devorando a obra desse mineiro e ganhei de um aluno um de seus principais romances. Tava passando da hora de eu ler o cara na literatura em sua forma extensa. Não importam quantas páginas você leia, o estilo é tão seco e objetivo que você não quer parar de ler. Lembro-me de não marcar com o lápis o parágrafo em que parei (tenho esse hábito) só pra retomar logo a leitura. É uma das histórias do advogado criminalista Mandrake. O final é... diferente do que eu imaginava. Não curti muito; mas todo o lance com as facas e a constante luxúria como um dos temas sempre são válidos na literatura do cara. Muito bom, mas ainda prefiro seus contos mais recentes. Claro, você reconhece todo o esforço do autor no romance; há muito estudo ali, sem sombra de dúvida. Sei lá, sou fã de contos também, né?
Quando eu terminar o "Branco neve, vermelho Rússia" eu conto pra vocês. A julgar pela capa, o livro é uma lindeza.