domingo, 31 de agosto de 2008

Eu acho que já comentei o quanto tenho horror a cri-Onças, não?

Menina de 9 anos é suspeita de matar padrasto em Campo Grande (MS)

Colaboração para a Folha Online

Uma menina de 9 anos matou o padrasto com uma faca de cozinha por volta das 14h deste domingo, em Campo Grande (MS). De acordo com o delegado Rodrigo Vasconcelos Braga, da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), a menina diz ter apunhalado o padrasto durante uma briga que ele tinha com a mãe. A mulher já teria sido agredida fisicamente por ele antes.

A criança usou uma faca de cozinha com cabo de plástico para apunhalar o padrasto no tórax. Segundo a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), o golpe teria acertado o coração, matando o homem ainda no local.

A criança e a mãe foram encaminhadas à Depac, onde foram interrogadas. A mãe alega não ter visto o momento do crime, mas garante que não teve envolvimento na morte do marido. A criança foi ouvida por uma psicóloga do SOS Criança e por uma conselheira tutelar. Segundo Braga, ambas concluíram que a menina pode ter sido a autora do crime. A criança foi encaminhada ao conselho tutelar.

O caso será encaminhado para o Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e Juventude) onde deve ser aberto um inquérito. De acordo com o delegado, tanto a menina quanto a mãe serão investigadas.

O corpo do padrasto da criança foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) de Campo Grande.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u439932.shtml

domingo, 24 de agosto de 2008

Youtube, a oficina do diabo




Quando conheci o Youtube, há uns dois anos no máximo, eu achava que o fim da televisão estava próximo. Eu não estava errado, apesar dessa previsão ser como a de que o Papa não deve durar mais uns 20 anos (afinal, ele tem mais de 80), ou seja, muito previsível.

Comecei a ver as coisas que eu gostava e que há séculos eu não via (episódios de desenhos animados, trechos de filmes, propagandas antigas, etc.), sempre me divertindo até a fechar a conta.

Depois comecei a ver as produções individuais, filmagens pessoais, videocassetadas que não foram pro Faustão, etc. Muito lixo e muita coisa engraçada. E muito lixo engraçado, conseqüentemente.

Daí, começaram as paródias. Tudo pode ser parodiado. De banda Calypso tocando “Aces high” (Iron Maiden) a uma banda hippie setentista chamada Apache tocando num clipe esdrúxulo ao som de Cannibal Corpse. Esse é doente de tão bom. Tem também o Slipknot tocando “La bamba”. O clássico, pra mim, são as versões (improvisadas pela fonética) em português de cantores indianos, como o clássico “Rivaldo, sai desse lago” ou “Golimar”. Este, com o refrão marcado por um eco feito na tora “Golimar... mar... mar...”, sem contar que é um plágio toooooooosco do “Thriller” do Jacko.

Aliás, tosquice é um elemento constante no Youtube. Quanto tempo eu já perdi esperando baixar coisas que achei que poderiam ser interessantes e, no fim, eram ridiculamente ruins. Mas a tosquice tem seu lado bom, sempre. Vide a abertura editada do clássico herói japonês Jiban, em que no refrão temos a imagem de um Adalberto feito no paint matando o herói de rir. “Jiban, Jiban, ri do Adalberto e morre”.

A edição de vídeos que já existem é outro grande trunfo. Há um curto e ótimo vídeo lá do Darth Vader chamado “Darth Vader being a smartass”, de 46”, que é fantástico, típico do Chaves. Aliás, Kiko dançando “atoladinha” é outro clássico.

Eu, que parei de ver televisão há um tempinho, não me canso de procurar porcaria no Youtube. Percebo que aquilo ali é melhor que tevê, porque você escolhe o que quer ver, mas acaba que a gente de cabeça vazia torna-se mais e mais tosco. É o que tenho dito, Youtube é a oficina do diabo.

Zeitgeist

Zeitgeist é uma palavra alemã que possui muitas acepções. A que mais me chama atenção refere-se ao pensamento que ocorre simultaneamente em locais totalmente diferentes do mundo ao mesmo tempo, sem que os pensantes tenham essa noção. Dizem que aconteceu isso com a lâmpada elétrica. Quem levou a fama foi Thomas Edison, por ter executado a idéia.

O mesmo ocorreu com o movimento punk, por exemplo, que as pessoas vivem discutindo se foi em Londres com o Sex Pistols ou se foi em Nova Iorque com os Ramones ou o New York Dolls que surgira. Aconteceu. Ao mesmo tempo. Como uma necessidade.

Semana passada eu fiquei intrigado com acontecimentos que mais pareciam coincidência, mas a palavra zeitgeist não saía da minha cabeça. O “espírito do tempo” (tradução literal para o termo alemão) andava me perseguindo. No sábado passado, enquanto dava aula, citei um Palio a título de um exemplo. No instante seguinte, um funcionário da escola entra na sala pedindo que o proprietário de um Palio fosse lá embaixo. Fez-se silêncio na sala, mas segue o passeio.

Eu estava só com o projetor na sala, o notebook não vinha há mais de meia hora, então eu decidi ir lá embaixo buscar o computador. Antes mesmo de chegar ao meio da sala, o mesmo funcionário entrou com o note...

Minha mulher sugeriu que eu jogasse o “jogo mais difícil do mundo”, um joguinho massa, mas difícil pra encardir, porque ela disse que eu iria gostar. Antes que eu o procurasse, vi lá na minha página inicial o tal joguinho em destaque na parte de jogos – me chamando pra jogá-lo, certamente.

No domingo, decidi começar a escrever esta crônica, porque achava que estava bem acompanhado espiritualmente. Porém, tão viciado fiquei no tal jogo mais difícil, que nem comecei a esboçar. Na segunda, depois de um acontecimento do qual não me lembro agora e que poderia ser entendido como a tal coincidência, uma aluna muito querida veio me perguntar se eu já havia assistido a um filme. Ela queria que eu lesse no papel, porque ela não sabia pronunciar o nome: Zeitgeist. Eu quase tive um infarto do miocárdio e senti uma pontada na pleura. Quando a tal da coincidência começa a nos perseguir, parece que déjà vus são insignificantes, e como assusta!

Uns dizem que coincidências não existem, que tudo acontece por um motivo. Bem, que elas existem, elas existem, por isso até têm um nome. Se é o acaso ou a pré-destinação que as gera, eu não sei responder. Nem sei em que acreditar. Tem horas que eu creio que tudo acontece na hora que tem que acontecer. Mas costumo pensar isso só quando as coisas dão certo. Se elas não se encaixam perfeitamente, ou eu as ignoro, ou eu fico tremendamente irritado – sobretudo quando, além de não se encaixarem, dão totalmente errado.

E você? Acredita em coincidências?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Artigo metalingüístico

Decidi publicar esse texto por dois motivos: 1º - ele é bastante esclarecedor, porque parte de um ser humano acima da média se colocando na nossa posição, de gente comum; 2º - porque está no site do Kanitz, colunista da Veja de quem, apesar de muita divergência, gosto muito de ler, é um ser humano o cara (e há poucos nessa revista). E se está no site dele, então está disponível na net. Lá há outros artigos igualmente interessantes, sobre diversos assuntos. Na verdade existe um terceiro motivo: vocês, meus alunos, precisam ler mais e aprender com o que lêem. Esse texto simples e inteligente tem este intuito: mostrar que você é plenamente capaz de produzir um texto tão bom quanto os que fez a vida inteira. Boa tessitura. E esta é totalmente desemaranhada.






Como escrever um bom artigo

Escrever um bom artigo é bem mais fácil do que a maioria das pessoas pensa. No meu caso, português foi sempre a minha pior matéria. Meu professor de português, o velho Sales, deve estar se revirando na cova.

Ele que dizia que eu jamais seria lido por alguém. Portanto, se você sente que nunca poderá escrever, não desanime, eu sentia a mesma coisa na sua idade.

Escrever bem pode ser um dom para poetas e literatos, mas a maioria de nós está apta para escrever um simples artigo, um resumo, uma redação tosca das próprias idéias, sem mexer com literatura nem com grandes emoções humanas.

O segredo de um bom artigo não é talento, mas dedicação, persistência e manter-se ligado a algumas regras simples. Cada colunista tem os seus padrões. Eu vou detalhar alguns dos meus e espero que sejam úteis para você também.

1. Eu sempre escrevo tendo uma nítida imagem da pessoa para quem eu estou escrevendo. Na maioria dos meus artigos para a Veja, por exemplo, eu normalmente imagino alguém com 16 anos de idade ou um pai de família.
Alguns escritores e jornalistas escrevem pensando nos seus chefes, outros escrevem pensando num outro colunista que querem superar, alguns escrevem sem pensar em alguém especificamente.

A maioria escreve pensando em todo mundo, querendo explicar tudo a todos ao mesmo tempo, algo na minha opinião meio impossível. Ter uma imagem do leitor ajuda a lembrar que não dá para escrever para todos no mesmo artigo. Você vai ter que escolher o seu público alvo de cada vez, e escrever quantos artigos forem necessários para convencer todos os grupos.

O mundo está emburrecendo porque a TV em massa e os grandes jornais não conseguem mais explicar quase nada, justamente porque escrevem para todo mundo ao mesmo tempo. E aí, nenhum das centenas de grupos que compõem a sociedade brasileira entende direito o que está acontecendo no país, ou o que está sendo proposto pelo articulista. Os poucos que entendem não saem plenamente ou suficientemente convencidos para mudar alguma coisa.

2. Há muitos escritores que escrevem para afagar os seus próprios egos e mostrar para o público quão inteligentes são. Se você for jovem, você é presa fácil para este estilo, porque todo jovem quer se incluir na sociedade.

Mas não o faça pela erudição, que é sempre conhecimento de segunda mão. Escreva as suas experiências únicas, as suas pesquisas bem sucedidas, ou os erros que já cometeu.

Querer se mostrar é sempre uma tentação, nem eu consigo resistir de vez em quando de citar um Rousseau ou Karl Marx. Mas, tendo uma nítida imagem para quem você está escrevendo, ajuda a manter o bom senso e a humildade. Querer se exibir nem fica bem.

Resumindo, não caia nessa tentação, leitores odeiam ser chamados de burros. Leitores querem sair da leitura mais inteligentes do que antes, querem entender o que você quis dizer. Seu objetivo será deixar o seu leitor, no final da leitura, tão informado quanto você, pelo menos na questão apresentada.
Portanto, o objetivo de um artigo é convencer alguém de uma nova idéia, não convencer alguém da sua inteligência. Isto, o leitor irá decidir por si, dependendo de quão convincente você for.

3. Reescrevo cada artigo, em média, 40 vezes. Releio 40 vezes, seria a frase mais correta porque na maioria das vezes só mudo uma ou outra palavra, troco a ordem de um parágrafo ou elimino uma frase, processo que leva praticamente um mês. Ninguém tem coragem de cortar tudo o que tem de ser cortado numa única passada. Parece tudo tão perfeito, tudo tão essencial. Por isto, os cortes são feitos aos poucos.

Depois tem a leitura para cuidar das vírgulas, do estilo, da concordância, das palavras repetidas e assim por diante. Para nós, pobres mortais, não dá para fazer tudo de uma vez só, como os literatos.

Melhor partir para a especialização, fazendo uma tarefa BEM FEITA por vez.
Pensando bem, meus artigos são mais esculpidos do que escritos. Quarenta vezes talvez seja desnecessário para quem for escrever numa revista menos abrangente. Vinte das minhas releituras são devido a Veja, com seu público heterogêneo onde não posso ofender ninguém.

Por exemplo, escrevi um artigo "Em terra de cego quem tem um olho é rei". É uma análise sociológica do Brasil e tive de me preocupar com quem poderia se sentir ofendido com cada frase.

O Presidente Lula, apesar do artigo não ter nada a ver com ele, poderia achar que é uma crítica pessoal? Ou um leitor achar que é uma indireta contra este governo? Devo então mudar o título ou quem lê o artigo inteiro percebe que o recado é totalmente outro?

Este é o tipo de problema que eu tenho, e espero que um dia você tenha também.

O meu primeiro rascunho é escrito quando tenho uma inspiração, que ocorre a qualquer momento lendo uma idéia num livro, uma frase boba no jornal ou uma declaração infeliz de um ministro. Às vezes, eu tenho um bom título e nada mais para começar. Inspiração significa que você tem um bom início, o meio e dois bons argumentos. O fechamento vem depois.

Uma vez escrito o rascunho, ele fica de molho por algum tempo, uma semana, até um mês. O artigo tem de ficar de molho por algum tempo. Isso é muito importante.

Escrever de véspera é escrever lixo na certa. Por isto, nossa imprensa vem piorando cada vez mais, e com a internet nem de véspera se escreve mais. Internet de conteúdo é uma ficção. A não ser que tenha sido escrito pelo próprio protagonista da notícia, não um intermediário.

A segunda leitura só vem uma semana ou um mês depois e é sempre uma surpresa. Tem frases que nem você mais entende, tem parágrafos ridículos, mas que pelo jeito foi você mesmo que escreveu. Tem frases ditas com ódio, que soam exageradas e infantis, coisa de adolescente frustrado com o mundo. A única solução é sair apagando.

O artigo vai melhorando aos poucos com cada releitura, com o acréscimo de novas idéias, ou melhores maneiras de descrever uma idéia já escrita.
Estas soluções e melhorias vão aparecendo no carro, no cinema ou na casa de um amigo. Por isto, os artigos andam comigo no meu Palm Top, para estarem sempre à disposição.

Normalmente, nas primeiras releituras tiro excessos de emoção. Para que taxar alguém de neoliberal, só para denegri-lo? Por que dar uma alfinetada extra? É abuso do seu poder, embora muitos colunistas fazem destas alfinetadas a sua razão de escrever.

Vão existir neoliberais moderados entre os seus leitores e por que torná-los inimigos à toa? Vá com calma com suas afirmações preconceituosas, seu espaço não é uma tribuna de difamação.

4. Isto leva à regra mais importante de todas: você normalmente quer convencer alguém que tem uma convicção contrária à sua. Se você quer mudar o mundo você terá que começar convencendo os conservadores a mudar.

Dezenas de jornalistas e colunistas desperdiçam as suas vidas e a de milhares de árvores, ao serem tão sectários e ideológicos que acabam sendo lidos somente pelos já convertidos. Não vão acabar nem mudando o bairro, somente semeando ódio e cizânia.

Quando detecto a ideologia de um jornalista eu deixo de ler a sua coluna de imediato. Afinal, quero alguém imparcial noticiando os fatos, não o militante de um partido. Se for para ler ideologia, prefiro ir direto na fonte, seja Karl Marx ou Milton Friedman. Pelo menos, eles sabiam o que estavam escrevendo.

É muito mais fácil escrever para a sua galera cativa, sabendo que você vai receber aplausos a cada "Fora Governo" e "Fora FMI". Mas resista à tentação, o mercado já está lotado deste tipo de escritor e jornalista. Economizaríamos milhares de árvores e tempo se graças a um artigo seu, o Governo ou o FMI mudassem de idéia.

5. Cada idéia tem de ser repetida duas ou mais vezes. Na primeira vez você explica de um jeito, na segunda você explica de outro. Muitas vezes, eu tento encaixar ainda uma terceira versão.

Nem todo mundo entende na primeira investida, a maioria fica confusa. A segunda explicação é uma nova tentativa e serve de reforço e validação para quem já entendeu da primeira vez.

Informação é redundância. Você tem que dar mais informação do que o estritamente necessário. Eu odeio aqueles mapas de sítio de amigo que se você errar uma indicação você estará perdido para sempre. Imagine uma instrução tipo: "se você passar o posto de gasolina, volte, porque você ultrapassou o nosso sítio".

Ou seja, repeti acima uma idéia mais ou menos quatro vezes, e mesmo assim muita gente ainda não vai saber o que quer dizer "redundância" e muitos nunca vão seguir este conselho.

Neste mesmo exemplo acima também misturei teoria e dois exemplos práticos. Teoria é que informação para ser transmitida precisa de alguma redundância, o posto de gasolina foi um exemplo.

Não sei por que tanto intelectual teórico não consegue dar a nós, pobres mortais, um único exemplo do que ele está expondo. Eu me recuso a ler intelectual que só fica na teoria, suspeito sempre que ele vive numa redoma de vidro.

6. Se você quer convencer alguém de alguma coisa, o melhor é deixá-lo chegar à conclusão sozinho, em vez de você impor a sua. Se ele chegar à mesma conclusão, você terá um aliado. Se você apresentar a sua conclusão, terá um desconfiado.

Então, o segredo é colocar os dados, formular a pergunta que o leitor deve responder, dar alguns argumentos importantes, e parar por aí. Se o leitor for esperto, ele fará o passo seguinte, chegará à terrível conclusão por si só, e se sentirá um gênio.

Se você fizer todo o trabalho sozinho, o gênio será você, mas você não mudará o mundo, e perderá os aliados que quer ter.

Num artigo sobre erros graves de um famoso Ministro, fiquei na dúvida se deveria sugerir que ele fosse preso e nos pagar pelo prejuízo de 20 bilhões que causou, uma acusação que poderia até gerar um processo na justiça por difamação.

Por isto, deixei a última frase de fora. Mostrei o artigo a um amigo economista antes de publicá-lo, e qual não foi a minha surpresa quando ele disse indignado: "um ministro desses deveria ser preso". A última frase nem foi necessária.

Portanto, não menospreze o seu leitor. Você não estará escrevendo para perfeitos idiotas e seus leitores vão achar seus artigos estimulantes. Vão achar que você os fez pensar.

7. O sétimo truque não é meu, aprendi num curso de redação. O professor exigia que escrevêssemos um texto de quatro páginas. Feita a tarefa, pedia que tudo fosse reescrito em duas páginas sem perder conteúdo.

Parecia impossível, mas normalmente conseguíamos. Têm frases mais curtas, têm formas mais econômicas, tem muita lingüiça para retirar.

Em dois meses aprendemos a ser mais concisos, diretos, e achar soluções mais curtas. Depois, éramos obrigados a reescrever tudo aquilo novamente em uma única página, agora sim perdendo parte do conteúdo.

Protesto geral, toda frase era preciosa, não dava para tirar absolutamente nada. Mas isto nos obrigava a determinar o que de fato era essencial ao argumento, e o que não era.

Graças a esse treino, a maioria das pessoas me acha extremamente inteligente, o que lamentavelmente não sou, fui um aluno médio a vida inteira. O que o pessoal se impressiona é com a quantidade de informação relevante que consigo colocar numa única página de artigo, e isto minha gente não é inteligência, é treino.

Portanto, mãos à obra. Boa sorte e mudem o mundo com suas pesquisas e observações fundamentadas, não com seus preconceitos.

Stephen Kanitz




segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Gente estranha I

Gente é bicho estranho mesmo. Eu comprovo isso todo dia. Nos bancos, nos ônibus, nos carros, nas escolas, nas ruas e nas grandes construções. Gente é tão estranho que às vezes chego a pensar que não seguimos as mesmas regras de conduta (dentro da mesma sociedade), que não somos plagiadores, que não somos verdadeiramente falsos. Que até pra ser falso tem de ser verdadeiro. Odeio gente que é falso falso.

Encontrei com um caboco outro dia e ele era um desses tipos estranhos. Era gente, enfim. Ele veio me mostrar seus trabalhos, seus artesanatos. Constrói caixas com lâminas de madeira. Tem a cara vermelha e conversa muito e baixo. Às vezes muito baixo. Extremamente tímido. E depois de um dedo de prosa (sei lá se foi tudo isso, acho que foi meia falange de prosa) o cara fez uma piada sobre um tipo de caixa dele, que a caixa poderia ser usada como bolsa feminina, dada a aparência e as alças de sisal. Piada nada, aquilo era uma comparaçãozinha daquelas que você abre meio sorriso pra cumprir a função fática da linguagem e não deixar o outro sem graça. E o cara depois da piada e do meu meio sorriso soltou uma gaitada, ria nervosamente olhando nos meus olhos e rindo, muito alto, mas muito mais alto que a boa convivência entre humanos recomenda. Meu meio sorriso deu lugar a um todo constrangimento. Esbocei o sorriso de volta e o cara não parou de rir, um riso contínuo, alto, que não era de gargalhada, era uma espécie de trunfo que ele tinha pra deixar o cliente desconcertado e rir com ele.

Pessoas que riem muito alto têm disto: baixa auto-estima. Chamam a atenção pra si deixando os outros com vergonha. Ou mesmo humilham o interlocutor (constrangendo-o) por acreditar que assim a piada será piada de qualquer jeito, que ele não sairá perdedor.

Só que ele já é um total perdedor apenas por fazer esse tipo de coisa. O humorista de verdade tem noção de feeling, timing (sacou? sacou? isso é pra mostrar que estou inteirado com o pessoal das artes cênicas, já até uso seu jargão), não fica procurando cabelo em ovo nem forçando a barra com as piadas horríveis. Nem matando as boas.

Da próxima vez que esse estranho aparecer lá na loja do meu pai, vou olhar no fundo dos olhos dele e começar a rir nervosamente, igual a ele. Jamais ficarei sem graça novamente!